Nem todas as histórias de emigração têm um final feliz. E quando se fala de emigração jovem, nem sempre é sobre casos de sucesso: há os que não querem emigrar por amor, os que voltam porque têm saudades e os que tentam, mas não conseguem. É o caso de três jovens portugueses com quem o P3 falou: Mariana (nome fictício), Sara e José Ernesto.
“Emigrar está na moda, incentiva-se muito”, começa por dizer Mariana, de 25 anos, que trabalha na área da comunicação. Mas não é tão simples como parece, reconhece. Depois do fim de uma bolsa de investigação e de uma possibilidade de trabalho que não se concretizou, viu-se desempregada, a viver em casa dos pais. Aproveitou para tirar a carta de condução e enviar currículos, dezenas de cópias. “Não deram em nada, nem sequer fui chamada para entrevistas.”
Os pais incentivaram-na a emigrar — até porque também eles foram emigrantes. “Quanto mais tempo estás parado mais difícil fica justificares a falta de oportunidades”, diz. Começou a ver os contactos espalhados pela Europa e, em Março de 2013, viajou para Amesterdão, na Holanda. Ficou em casa de uma amiga, durante cerca de um mês.
Despediu-se de amigos e família (“Encontramo-nos lá”, ouviu da boca de muitas das pessoas) e começou por procurar em galerias de arte, museus e fotografia — Mariana também tem um curso do Instituto Português de Fotografia. Das empresas ouvia sempre que tinha de falar holandês, língua que não domina (“Não sabia que era um critério tão fundamental”). Só com conhecimentos de inglês, apenas em cafés — situação que preferia encarar em Portugal.
Ao fim de um mês, consciente do dinheiro que estava a gastar e com dificuldades em se adaptar ao clima da cidade, optou por regressar. “Voltar foi horrível”, diz; para quem não a conhecia bem passou uma “ideia de desistência”. “A minha vida era lá fora, desde sempre”, desabafa. Foi a experiência menos bem conseguida em Amesterdão que a levou a mudar de ideias. “Voltei com a certeza de que tinha de arranjar emprego cá” — e conseguiu. Cerca de um mês depois de regressar, conseguiu trabalho numa cadeia de hotéis, no Porto, onde se mantém. E já saiu de casa dos pais.
“Voltei a sentir-me a maior falhada do universo”
Sara Teixeira Pinto tinha acabado de defender a tese do mestrado em Arquitectura quando decidiu procurar trabalho em Londres. Passou duas semanas na cidade inglesa, em Novembro de 2012, e entregou cerca de 20 currículos e portefólios em escritórios de arquitectura. Regressou com o plano de voltar no início de 2013.
Assim fez, em Janeiro, para passar dois meses: encontrou um part-time num café (o seu primeiro emprego), para pagar as despesas, e dedicou-se a ligar para escritórios, a visitá-los e entregar CV. “Acho que estava a ser bastante pró-activa”, diz ao P3. No entanto, o feedback que ia recebendo não era satisfatório. “A falta de experiência profissional colocava-me atrás dos outros candidatos”, refere. E o facto de haver muitos arquitectos — e muitos arquitectos portugueses — à procura de trabalho em Londres também não ajudou.
Enquanto esteve na capital britânica enviou, também, 30 currículos para Paris (cidade onde fez Erasmus durante um ano); apenas obteve resposta por parte de um gabinete, que lhe ofereceu um estágio não remunerado. “Cheguei a um ponto em que estava a ficar com o moral completamente no chão”. E se era para trabalhar num café ou alinhar num estágio sem receber, só pela experiência, preferia estar em Portugal. Regressou.
“Voltei a sentir-me a maior falhada do universo”, confessa. Mas não desmoralizou. “Continuo a ter intenção de trabalhar e viver lá fora. Ainda é o melhor a fazer, mas às tantas tenho de abrir o leque, não posso fixar-me em países tão próximos”, reconhece. Ter experiência é, hoje, o principal objectivo de Sara. Para poder concorrer a vagas de emprego sem ficar em último da lista por nunca ter trabalhado na área, está a fazer um estágio para ingressar na Ordem dos Arquitectos, no Porto.
Brasil, o país onde a língua pode ser um problema
José Ernesto Coelho nem queria acreditar quando percebeu que tinha de “traduzir” e refazer o seu currículo se queria ser chamado para entrevistas de emprego no Brasil. O engenheiro civil de 35 anos passou três meses no Rio de Janeiro, entre Setembro e Dezembro de 2012, a procurar trabalho e voltou para Portugal, findo o visto de turista, sem sequer ter chegado a ser entrevistado por empresas (apenas por agências de recursos humanos).
As obras no Nordeste Transmontano, onde trabalhou, terminaram e José Ernesto ficou desempregado. Teve de regressar a casa de família, em Ílhavo, e o Brasil pareceu-lhe um bom país para fazer carreira. “Tentei sempre na minha área, porque se estudei ao menos queria esgotar essa opção”, diz. No Brasil ficou num hostel e dividia os dias entre envios de candidaturas e algum turismo.
Admite que não preparou devidamente a ida para aquele país, foi uma decisão rápida. “Quando cheguei, tive de refazer o currículo porque nas primeiras semanas enviava-o e ninguém dizia nada”, explica. Foi quando conheceu outros portugueses a trabalhar lá que se apercebeu que as pessoas “não compreendiam o que estava escrito nos documentos”, daí ser logo posto de parte. “Esse trabalho já devia ter levado feito.”
Voltou “à base”, sem qualquer problema. Assumiu que não conseguiu e continuou a procurar. Mas a situação em Portugal estava igual. “Ninguém responde. Vêem-se muitos anúncios mas as empresas não dizem nada, nem sim nem não.” As poucas que responderam nunca lhe ofereceram “mais do que 500 euros” — e ainda tinha de andar com o carro próprio. Até que, há poucas semanas, surgiu uma oportunidade em Angola e José Ernesto já está em Luanda a trabalhar como engenheiro civil.