“Ela vem do Dubai” – Ode ao querido mês de Agosto

“Entre as novidades da malta e os pratos de caracóis matam-se saudades, recordam-se histórias e o tempo afinal não se moveu desde que me fui embora. O essencial continua no brilho dos olhos e é à prova de tempo, distância”

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O querido mês de Agosto, que deixa tanto emigrante a suspirar. Não fui exceção e lá fui usufruir de dias solarengos nesse belo país à beira-mar plantado.

Entre as novidades da malta e os pratos de caracóis matam-se saudades, recordam-se histórias e o tempo afinal não se moveu desde que me fui embora. O essencial continua no brilho dos olhos e é à prova de tempo, distância.

Os pais, em especial a nossa mãe, são os mais orgulhosos do cadastro que legamos pelo mundo e fazem questão de o proliferar aos quatro ventos. Dir-me-á o santo emigra se não verifica a existência de um síndrome engraçado que acontece quando aterramos novamente a nave na terriola e saímos para o (re)conhecimento da área. De repente, todas as ruelas sabem das últimas novidades do nosso paradeiro, como se tivesse sido impresso naquelas revistas de estrelas hollywoodescas, só que em vez de Hollywood, todo o síndrome gira num contexto mais catita, a terriola! Daí se chamar o síndrome Terriolywood, que se deve única e exclusivamente a um agente de comunicação passa-palavra – a nossa querida mãe. Já dizia a música “o melhor que a gente tem”.

O senhor Hélder da pastelaria sabe que há muito não como aquele croissant prensado com duas fatias de queijo e três de fiambre. Como acha que estou mais magra faz questão de duplicar as doses – “Ela vem do Dubai, precisa de reforço”. A senhora da Casa da Baía mostra-me umas t-shirts giras de hino à cidade as quais agarro com orgulho e quase que compro uma – “pois sabe como é, ela vem do Dubai lá não tem estas coisas”. A Cilinha do Verde e Branco que me viu crescer a comer salmonetes repara na maneira como os devoro sem dó nem piedade, ao qual a senhora minha mãe acrescenta “pois, ela vem do Dubai, o peixe lá não sabe tão bem!”. A dona Amélia da Lanidor elogia o meu tom de pele acastanhado – “pois sabe, ela vem do Dubai pode apanhar sol o ano inteiro”. Entro numa loja de coisas giras e logo a empregada saúda a minha mãe e acrescenta-me “Já sei que chegou hoje do Dubai”. Entro noutra para comprar uns brincos para um casamento ao qual a senhora minha mãe de novo acrescenta “ela veio hoje do Dubai, não teve tempo para comprar algumas coisas”. E a lista de situações terriolywoodescas vai por aí a fora. O vizinho Miguel repara que me esforço para manter a postura face à travessa de ostras que mete à minha frente – “pois, ela veio hoje do Dubai ainda não dormiu grande coisa..”

A palavra Dubai surge como algo inatingível e de sonho. “Aquilo é mesmo o paraíso não é?”. Não, não é. A esta altura do campeonato férias, o paraíso começa por P acaba em L, é banhado pelo Oceano Atlântico, insere-se na Península Ibérica e não é uma província de Espanha – o fenómeno CR7 quebrou esse mito e hoje em dia já somos vistos no estrangeiro como um território autónomo de nuestros hermanos. Inspira-se história, cultura. No deserto inspira-se areia, pêlo de camelo, betão, ostentação – por alguma razão as sílabas que constituem a palavra Dubai incidem exatamente no verbo comprar – “Do buy”.

De braços abertos usufruo das peripécias do síndrome terriolywood. Sinto-me um verdadeiro Paulo Portas a acarinhar as caras que dão vida à minha cidade. Só não faço promessas porque não sei quando vou desfazer a mala de vez. Voar é preciso mas também é preciso ficar e consolido essa pertença no abraço, esse simples sistema de encaixe: “dois braços abertos e depois fechados à nossa volta”. Neste querido mês de Agosto, abrace. Reduza quilómetros matando saudades para que “A gosto” leve sorrisos no rosto para regressar outra vez.. Xau. Vou Embora. Boas Férias!

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