O imprescindível valor das forças da autoridade

Por mais pacifista que uma pessoa seja, tem que reconhecer a importância das forças da autoridade

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Miguel Madeira

Num mundo que se quer cada vez mais inclusivo e pacífico pode-se questionar a existência de forças da ordem. Aliás, desde o fim da guerra fria que as grandes potências têm feito esforços para reduzir o armamento e a dimensão dos exércitos. Para além disso, diversos países têm apostado na diminuição das polícias. Mas quer isso dizer que podemos acabar com as forças da autoridade? Penso que não. De facto, essas forças são para a comunidade o que o sistema imunitário é para o nosso corpo, os glóbulos brancos que combatem as invasões de agentes inimigos.

É verdade que, na nossa saúde, o mais importante é a prevenção e, só depois, o combate da doença. Grandes avanços na esperança média de vida das populações fizeram-se à custa da redução das possibilidades de contacto com os agentes infecciosos: pela melhoria da higiene pública e pessoal, pela erradicação de mosquitos e águas inquinadas, ou pela construção de saneamento básico. Essa é a forma mais inteligente de aumentar a saúde: não permitir que a doença se instale. Porém, uma vez instalada é preciso combatê-la e é aí que entram as forças da autoridade do nosso organismo…

Na vida de uma comunidade, devemos ter a mesmo postura: tudo fazer para que não surjam conflitos, para que não haja a necessidade de intervenção das forças da ordem. Mas elas têm que estar lá, sempre, pois há situações em que o conflito se torna inevitável. E mais não fosse, servem como força dissuasora para potenciais inimigos.

Por mais pacifista que uma pessoa seja, tem que reconhecer a importância das forças da autoridade. Mas por serem tão importantes, por se lhes dar o monopólio da violência, temos também que lhes exigir muito: aqueles que podem exercer a violência em nome da lei têm que ser bastiões da moral, da disciplina, da coragem, do comportamento cívico e verdadeiros garantes do estado de direito. Um estado subdesenvolvido é governado por máfias (a violência privatizada…) que criam as suas próprias regras e leis que impõem aos demais. Um estado de direito civilizado consigna nas forças da ordem o monopólio de exercer a violência em nome da lei e, em particular nas forças armadas, o reduto máximo da segurança. Assim, os militares e os agentes de segurança têm que ser indivíduos bem preparados, bem pagos, motivados e rigorosa e criteriosamente seleccionados.

Em Portugal as nossas forças armadas já deram provas de cumprirem a sua função por diversas vezes: em várias missões internacionais mas, cá dentro, na missão mais importante, quando conseguiram derrubar uma ditadura e instaurar a democracia. Também as polícias travam, diariamente, uma luta difícil contra o crime (tantas vezes em condições de inferioridade) e merecem, por isso, toda a nossa consideração e respeito (quantos de nós estariam dispostos a arriscar tanto em nome da segurança colectiva?)

Em tempos de paz as forças da ordem não perdem o seu nexo. Porém, devem ser orientadas para o que for mais necessário. No nosso caso, a patrulha do mar, da floresta e a segurança urbana devem ser prioridades. E até se pode repensar a questão do serviço militar obrigatório. À imagem da Suíça (que tem um serviço militar obrigatório mesmo nunca tendo tido a necessidade de enfrentar guerras), podíamos concebê-lo como uma forma de promover a coesão nacional e o espírito cívico.

No fim do dia, todos devemos perceber a importância de existirem forças da ordem e pugnar para que os militares e polícias sejam respeitados porque terão que ser cidadãos exemplares. Um país sem forças armadas está à mercê da tomada do poder por uma qualquer força invasora e um país sem polícias está à mercê das máfias internas que destruiriam o nosso estado de direito.

Sejamos pacifistas, pugnemos pela paz e pela harmonia entre as pessoas mas nunca percamos a noção do imprescindível valor da nossa segurança…

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