Golden Pavilion Records

Gostamos de inquéritos — e de música. Decidimos encostar à parede pequenas editoras portuguesas. A Golden Pavilion é do mundo — como o criador

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Joana Maltez

É uma editora do mundo como ele, António Barreiros, que pensa em inglês e alemão, francês e português, o que for preciso. Os discos, claro, também atravessam continentes. A Golden Pavilion dedica-se a edições de vinil, limitadas e de grande qualidade, particularmente raras ou esquecidas. Olha para o universo psicadélico, progressivo, acid-folk e art-rock dos finais de anos 60 e 70. Objectivo: ressuscitá-lo. Para breve, novas edições: um "library" italiano, parecido com o disco de Stefano Torossi; um disco de 1976 dos americanos Raven vê finalmente a luz do dia; seguem-se Pentwater e Bert Keely já nos últimos meses do ano. 

Ninguém vos disse que já não se vive da música?

Não se vive da música nem se vive sem romantismo.

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Luís Octávio Costa e Amanda Ribeiro encostam à parede pequenas editoras portuguesas

Escolheram o nome da vossa editora numa noitada de Scrabble?

Não. Eu gosto de dourado então queria algo com “Golden”. Pensei em Golden Dawn, mas optei por não escolher esse nome porque faz pensar em “Goldie Hawn”; depois imaginei um fluido dourado, mas em inglês não dá ("Golden shower"?!) pois não condiz com o meu espírito estético. Logo optei por Golden Pavilion em homenagem à beleza, à perfeição e à estética, o tema central do livro com o mesmo nome escrito pelo Mishima.


Que bandas de outra editora levariam para uma ilha deserta?

Bem, se se trata de levar a banda fisicamente, não me estou muito bem a ver a sustentar quatro matulões numa ilha deserta só para desfrutar da música deles, mas se for discos, assim só mesmo as gravações, talvez Astor Piazzolla, Billie Holiday e Frank Sinatra... É preciso um toque de magia numa ilha deserta...

A vossa editora tem sotaque?

Sim, ao jeito daquele personagem do "Nome da Rosa", que fala todas as línguas e nenhuma... ao mesmo tempo. Andei muito por aí. Vejo-me a pensar em inglês ou em alemão, depois troco palavras em francês... é uma grande confusão. A Golden é portuguesa porque cá nasci e cá estou, no Porto, mas a Golden viaja comigo. Os discos da Golden já se fizeram em Espanha, na Itália, na Alemanha, no Reino Unido, na Bélgica e na República Checa (é lá donde vêm os bombistas de Boston, estou a brincar, claro.). Hoje em dia, os discos da Golden fazem-se todos na Califórnia numa fábrica que faz discos desde 1939 (quando o Hitler decidiu marchar sobre a Polónia, os americanos estavam em plenas gravações de "tap dance"). Continuando: os discos são vendidos a partir de Seattle e vão parar a sítios como a Papua Nova-Guiné antes de aparecerem no mercado português. Isto porque falta brutalmente sotaque ao mercado local...

Quando é que foi a última vez que encheram os bolsos e o ego?

Há cerca de meia-hora recebi um email de um músico de uma banda, cujo álbum, gravado em 1972, foi reeditado na Golden. Ele anunciou-me que reformou a banda, depois de 40 anos sem se verem e sem tocarem juntos, e enviou-me um link de um pequeno concerto que fizeram no Connecticut. Fiquei comovido, sim. De resto, o dinheiro é um “Necessary Evil”. O que interessa neste mundo, a única coisa que realmente interessa, é a paixão.

Um álbum também se come com os olhos. Quem é o verdadeiro artista?

O artista é aquele que sabe ver. Pois aqueles que se auto-intitulam artistas nunca o são. Existem apenas veículos. O verdadeiro artista, se é que isso existe, é aquele que cria uma linguagem, que desvenda um sentimento, que reinventa um movimento, nas palavras, na música ou na imagem de outrem.

Qual é o melhor sítio para ouvir música?

É óptimo ouvir música no carro, mas eu não tenho carro. É um pouco como aquela piada do Woody Allen no filme “Zelig”: “I’m 12 years old. I run into a Synagogue. I ask the Rabbi the meaning of life. He tells me the meaning of life... But, he tells it to me in Hebrew. I don’t understand Hebrew. Then he wants to charge me six hundred dollars for Hebrew lessons...”

E que tal uma piada seca?

Bem, sem querer julgar ninguém temos de admitir que os franceses são um bocado peculiares. No outro dia estava a andar na rua na Baixa do Porto e passei por dois franceses que diziam um ao outro (com aquele tom de cretinice imperial que carrega nos “euuuu”): "Ç’est un peu Bagdad..." Fiquei sem palavras, sem palavras mesmo...

Eis uma piada que ilustra bem o que acontece com franceses cá em Portugal:

Uma francesa entra numa mercearia, vê umas nozes, aponta e diz: "Comment ça s’appelle?" O senhor responde: "Isto não se pela, parte-se!" Ela: "Comment?" Ele: "Com a mão não! Com um martelo!" Ela: "Je ne comprend pas..." Ele: "Então, se não queria comprar, porque é que veio cá?"

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