André Cruz: o tangram do Primavera Sound é dele

Com 32 anos, o designer/músico André Cruz é o autor da nova identidade gráfica do festival Optimus Primavera Sound. Pôs-se a fazer música com o tangram, apesar de ser viciado em Tetris

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Joana Maltez
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Existem sete notas musicais. O tangram tem sete peças. Sete formas geométricas que dão origem a milhares de figuras. Tal como na música. Uma epifania (uma “luz”) que pôs André Cruz a fazer música com o tangram na identidade gráfica do Optimus Primavera Sound. “Posso sobrepôr as formas e fazer melodias. A partir de três [formas], já tenho um acorde.”

Fala o designer e fala o músico (será possível separá--los?), que na verdade é viciado em Tetris (com direito a "app" e tudo). Ambos dedicaram-se a brincar com o quebra-cabeças chinês que agora está espalhado em cartazes e “outdoors” por Barcelona e pelo Porto, pela Península Ibérica e pelo mundo, e por toda a Internet, está claro. Estes jogos coloridos saíram do escritório deste designer português de 32 anos que ainda não sabe bem definir qual é a sensação de ver o seu trabalho em telas de 300 metros. “É engraçado eu ter desenhado isto no Bairro da Bouça [no Porto, onde reside] e agora estar vê-lo assim. Há sempre imensas dúvidas. Fico contente, mas é uma responsabilidade muito grande.” 

Enquanto designer, sempre foi músico. E vice-versa. Às vezes até pensa que tem uma vida dupla: muita gente só o identifica com uma das actividades, desconhecendo por completo o “doppelgänger”. Até aos 18 anos, achou que ia “viver a vida a tocar guitarra”. “Ainda bem que não o fiz porque ia tornar-me num pior guitarrista do que o que sou ou, pelo menos, mais chato”, graceja. Optou por Design de Comunicação na ESAD (“sem saber muito bem o que era”), mas nunca deixou de piscar o olho à música. Teve bandas, muitas, do metal ao rock, até chegar aos Sizo, que pararam em 2011.

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No trabalho, a mesma sina. Passou pela ExperimentaDesign e pela Drop do reputado João Faria, seu professor na faculdade, uma “pessoa muito importante” no “rumo” que seguiu. Com apenas 25 anos, foi convidado para trabalhar na Casa da Música (CdM), onde hoje é director de arte. Esteve em Nova Iorque, juntamente com a colega Sara Westermann, a colaborar com Stefan Sagmeister para ajudar a definir a linha gráfica da instituição portuense. E, claro, nunca deixou de desenhar posters para concertos, discos para bandas, cartazes para festivais, como os de Paredes de Coura (PdC) de 2010 e 2011, muito por culpa das andanças com os Sizo. E, agora, o Optimus Primavera Sound.

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Um por todos

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Em Julho do ano passado, viajou para Barcelona. O mais indie dos festivais queria mudar de imagem e conhecia o trabalho que André Cruz tinha desenvolvido para a CdM e para o PdC, cuja organização partilha membros com o Optimus Primavera Sound (OPS). A proposta foi “abstracta”. “É o pior que te podem fazer”, admite. Uma página em branco, tudo em aberto. A única premissa: dois festivais em dois países, uma identidade para ser aplicada em ambos e noutros, se necessário, durante alguns anos. André teria de arranjar uma forma de “comunicar de uma forma simples”, mas “com algum interesse”, para pessoas de todo o mundo.

À saída da reunião, um primeiro pensamento: “Preciso de criar um sistema gráfico, um jogo que seja fácil de aplicar, flexível, mas que permita soluções sempre diferentes.” Algo “gráfico”, nada de “logótipos fixos e rígidos” — “Já chega de marcas nas calças de ganga, é quase como as vacas marcadas com o carimbo.” O tangram, a segunda proposta que apresentou, foi o resultado deste raciocínio, da procura pelo “mínimo denominador comum” que, no fim de contas, é a música. “É o que faz com que os festivais existam.” Em princípio, pelo menos. 

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Esboçou e rabiscou, em cadernos e guardanapos. Não houve cá férias. Pintou as formas do tangram em folhas grandes, digitalizou-as para manterem o cariz “orgânico” (são “humanas” e “individuais”, tal como a música). Como um “encenador”, foi atribuindo os papéis ao seu “actor”. Três semanas depois, já em Agosto, regressou a Barcelona com a proposta. De que é que mais gostaram? “Do jogo, das soluções infinitas. Dá para este ano, para o próximo, etc.”

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André acabou por fazer sozinho um tipo de trabalho que normalmente é atribuído a agências ou equipas grandes. Ou quase sozinho. Em Barcelona, colabora com Ana Ayala, a designer que trata da aplicação do grafismo do Optimus Primavera Sound que decorre de 22 a 26 de Maio; no Porto, com a mesma tarefa para a congénere portuguesa, está Rita Carapeto. “Eu acho que eles arriscaram bastante, podia ter corrido mal”, confessa André, que enquadra esta atitude na “filosofia” do Primavera. “Eles arriscaram também em trazerem o festival para o Porto, arriscam nas bandas que trazem. Têm noção do risco e apostam nele.”

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