Inês Teotónio Pereira proferiu, numa crónica que publica aos sábados no "i", a crítica mais balofa e superficial de que há memória sobre o Socialismo.
Ao longo de um extensíssimo texto consegue não dizer rigorosamente nada de verdadeiramente crítico, nem revelar, sequer, uma agenda ideológica (de qualquer origem) sobre o objecto; facto que, possivelmente, mereceria da nossa parte desconsideração e desprezo ou um simples, mas sempre acutilante: "quem diz é quem é e tem cara de chimpanzé!" — resposta que, note-se, utilizaria a mesma dedicação intelectual de "os socialistas são crianças a vida inteira", a pedra de fecho do texto da supracitada autora.
Não iremos neste espaço questionar o percurso da auto-proclamada jornalista, de 42 anos, nem o seu percurso profissional, presente na biografia publicada, preenchido com os cargos de chefe de gabinete no CDS, adjunta de um ministério, assessora de uma vereadora e coordenadora da comunicação da campanha "Não’", em 2007. Talvez (e porque a conjuntura económica é verdadeiramente má) nem uma resposta tenham dado às milhares de cópias do seu currículo que Inês enviou para empresas de todo o Mundo. Sejamos solidários!
Mas serve este espaço para dar razão a Inês porque nós, socialistas — independentemente da filiação partidária ou da não filiação, como é o meu caso — vivemos para ter direitos, sim. Como todos, vivemos da procura pela felicidade individual. A nossa agenda radical talvez continue a servir de força de bloqueio para aqueles que todos os dias batalham incessantemente pelo progresso da nação. Continuamos a impedir que esta visível agenda do progresso inclua a privatização da Escola Pública, por via directa ou da a atribuição de "cheques escolares" (um sonho antigo do CDS) e que dividiria o sistema entre escolas para ricos e escola para pobres, que continue a desmantelar o Ensino Superior público, a única eventual saída para o estádio calamitoso do país, por via do subfinanciamento (as universidades perderam, em cinco anos, 20% do seu financiamento por via do OE), que se privatize, ou que se continue a privatizar, as redes estratégicas (abastecimento de água e saneamentos, electricidade, telefones...), aeroportos, redes de transportes colectivos...
Em suma, nós, socialistas, temos, para além da infantilidade denunciada, esse sonho que a Inês Teotónio Pereira resume como direitos absolutos. Esse sonho que a governação não olhe para o Estado com desdém ou ódio, que não instale preconceitos populistas de que "os funcionários públicos são preguiçosos’", ou "todos os pobres vivem à custa do RSI, vão masé trabalhar, malandros", ou que não se faça da governação pública uma oportunidade de negócio. Esse negócio que privatiza lucros e nacionaliza despesas e responsabilidades, como é bom exemplo a EDP. Privatiza lucros que sustentariam um Estado forte (os anuais da EDP chegavam para pagar todo o ensino superior universitário público português) e não odiado, capaz de responder aos problemas dos que se encontram em circunstâncias mais frágeis: dos que estão doentes, dos que perderam o emprego, dos que precisam de apoio para estudar... Um Estado providência, ou, se preferir, de Bem-Estar Social, sem conotações Peronistas.
Inês: o socialismo não é propriedade das crianças; os meus pais são socialistas! Talvez para si o entendimento sobre o valor da igualdade (que claramente nos distingue) seja uma ligeira nuance ideológica — eu reservo as minhas dúvidas —, mas não é, certamente, nem terrorismo, nem infantilidade.