Igreja Universal dos Fazedores de Bonitas Listas Musicais dos Últimos Dias (IUFBLMUD ou simplesmente igreja) dedica-se à partilha de músicas e de conhecimento musical entre os seus membros (ou “irmãos”). Não quer ser mais um grupo no Facebook, por isso inventaram a sua Bíblia, com chamamentos, sanções e outros delírios — inclusive um Messias, um tal de "Professor Manuel Joaquim" —, que incluem uma celebração de carne e osso.
O Phestival — que apresenta ao vivo, nos próximos dias 19 e 20 de Abril, no Hard Club, no Porto, um conjunto de DJ e bandas já com algum percurso nos palcos nacionais — nasceu na "igreja" e será "a mais longa missa da história do grupo".
Para entender a dinâmica do grupo, o P3 encontrou-se com Ricardo Salazar, advogado e director da "igreja", José Reis, professor universitário e criador da "igreja", e António Barroso, jornalista e "bispo" da "igreja". Poderia haver um quarto elemento sentado à mesa daquela esplanada, mas a verdade é que a cadeira que estava reservada para o "Professor Manuel Joaquim, mecenas das artes e cultura", ficou vazia.
Vamos por partes. No grupo é lançado todos os dias, à meia-noite, um tema. Em resposta ao chamamento, "irmãos" e "bispos" têm que publicar um "post" com uma música, de acordo com as regras. A violação das mesmas tem uma sanção denominada “peixe”. Ao P3, Ricardo Salazar conta que “a sanção do 'peixe', apesar de ser um dos símbolos do cristianismo, não foi pensado por aí, mas sim por causa da música do 'Fish lapping dance', dos Monty Python”.
Os administradores (ou “bispos”) são os responsáveis pelo cumprimento das regras e pela colocação do tema do dia. Os temas são diversos e vão desde “músicas com campainhas de bicicletas” a “cassete romântica”.
A "igreja", criada a 27 de Novembro de 2009, já conta com mais de quatro mil membros e tem cerca de 500 posts por dia. De acordo com Ricardo Salazar o surgimento do grupo passa “pela criação de um novo 'Matrix'”, um novo universo virtual. “O que acontece no nosso grupo não é o acrescentar pessoas por acrescentar, uma vez que temos de ser cuidadosos em relação ao cumprimento das regras e em último recurso expulsar pessoas”.
O "Phestival" no Porto
A "igreja", além deste “convívio virtual”, organiza várias “missas” ou jantares e festas. Para Ricardo Salazar “o que vai acabar por acontecer com o Phestival é uma missa, mas desta vez com bandas ao vivo e em formato maior".
O Phestival é feito à moda do Porto, sem financiamento e patrocinadores. O evento tem como principal fonte de inspiração a figura e obra do Professor Manuel Joaquim, que desapareceu em África no século XIX. “Para o grupo funcionar da maneira que funciona é necessário criar uma série de conceitos para que tudo tenha um significado”, justifica José Reis.
“Qualquer pessoa que não pertença à 'igreja' pode divertir-se na mesma e passar um bom bocado, mas é natural que os que estão por dentro do que acontece nas nossas paródias diárias se divirta um bocadinho mais por causa de estar identificada com o tipo de humor que fazemos entre nós”, refere António Barroso.