Reverse graffiti, arte menos poluição

Faz-se em vidros de carros, mas também em sinais de trânsito, em paredes, em túneis, em todas as superfícies nas quais a civilização depositou todo o tipo de poluição, seja ela atmosférica ou visual

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Paul Curtis

É fácil entender o que é o reverse graffiti, ou o grafite inverso, se nos lembrarmos dos carros encardidos e amarelados estacionados o dia inteiro na terra seca, debaixo do sol impiedoso das praias de verão, em cuja camada áspera de poeira havia sempre alguém que riscava uma frase a propósito da higiene do carro e da higiene do dono.

O reverse graffiti faz-se em vidros de carros, mas também em sinais de trânsito, em paredes, em túneis, em todas as superfícies nas quais a civilização depositou todo o tipo de poluição, seja ela atmosférica ou visual. Essa é a poluição que os artistas de reverse graffiti vão limpar, entalhando espaços limpos na poeira, no fumo, no papel ou no cartão, para criar frases, imagens, símbolos, e por vezes quadros inteiros.

O idealizador da técnica foi o britânico Paul "Moose" Curtis, que, usando água e detergente, começou a limpar olhos ameaçadores de Big Brother na fuligem que cobria os sinais de trânsito da sua Leeds natal, ou então florestas melancólicas nas paredes cinzentas de São Francisco. Outros criadores, como Scott Wade, dedicaram-se aos vidros dos carros, sulcando na poeira rostos, como o de Einstein, ou reproduções de quadros de Da Vinci e Vermeer.

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Alexandre Orion

O brasileiro Alexandre Orion, que define o reverse graffiti como "arte menos poluição", conta que, ao fazer "Ossário", a sua série de caveiras esfregadas na fuligem das paredes do túnel Max Feffer, em São Paulo, se deparou com a polícia, que andava para trás e para frente, a tentar arranjar uma justificação para o prender.

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Scott Wade

Mas que tipo de justificação se arranja para prender alguém que aparentemente está a limpar o espaço público? As autoridades da cidade não estiveram com meias medidas: mandaram lavar todos os túneis da cidade, para impedir que a água e o detergente se tornassem em armas temíveis de intervenção pública.

Esse é um dos fascínios do reverse graffiti, o de revelar como as ferramentas mais simples podem servir para denunciar a agressividade ambiental e visual sob a qual vivemos, e dar-nos a essência do puro, do vazio, do humano e do silencioso que existe debaixo da poluição, da estridência, do ruído e da indiferença dos nossos dias.

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