Dedica-se à escrita, ao desenho, às curtas-metragens e à edição. Tudo desde Estocolmo, cidade onde vive desde 2008 este moçambicano nascido em Maputo em 1979. Rui Tenreiro tem “três trabalhos narrativos” em exposição na Fundação Calouste Gulbenkian, sempre com o desenho ou as histórias desenhadas como “fonte de expressão primária”, explica ao P3 por e-mail.
Mantendo a mesma linguagem narrativa, substituiu o desenho pelo cinema e produziu três curtas-metragens, “trabalhos altamente pessoais” que integram as “Ocupações Temporárias — Documentos” do programa Próximo Futuro. “São pequenas histórias que não obedecem a parâmetros comerciais. As histórias não avançam por diálogo nem narração, mas por símbolos e emoções sugeridas ao espectador.”
Rui Tenreiro vê esta exposição conjunta como uma oportunidade para “formar um ponto de encontro de expressões entre os vários artistas e países participantes” e espera que a mesma encoraje “os moçambicanos a se questionarem sobre como podem narrar o seu panorama artístico”.
Colectânea já à venda
A identidade africana é uma ideia que atrai este jovem artista — daí a criação de um “projecto-observatório pessoal de histórias e desenho africana”. Rui acredita que existe um “estilo de desenho africano, com técnicas e estética próprias” (“tal como existe um estilo belga ou um japonês”). “Quero evitar atitudes puristas e levar em conta que esses estilos podem ter influências múltiplas mas, mesmo assim, possuir características próprias.”
“Gostava de descobrir o que define esse estilo ou estilos e como se chamar — o caso de já haver um nome —, quais as técnicas usadas na narrativa de histórias desenhadas e quem as adopta. Ou, até, se a ideia de que existe uma voz narrativa africana é errada”, continua.
Mas esta é a intenção a longo prazo do projecto. O primeiro passo daquilo que Rui vê como “uma longa caminhada” é a colectânea de banda desenhada sul africana, que se chama “UHLAKANYANA” e que já foi impressa, num sistema “print-on-demand” (para “poupar em papel, custos de impressão desnecessários e, também, em espaço de armazenamento para livros”).
Agora, este livro vai servir de “demo” que Rui vai propor a várias editoras ou instituições para publicação — tudo para conseguir desenvolver o projecto “de forma a criar uma versão mais completa e ‘séria’ em termos de edição, produção e estudo deste tipo de desenho”.
Da BD a contos de terror
Além da BD africana, Rui está a trabalhar noutros projectos (vê a Galeria), com artistas que participam no programa Próximo Futuro. Com João Petit Graça e Tiago Correia-Paulo está a adaptar um conto de Albert Camus para uma curta-metragem, “tentando transplantar a história da Argélia para um cenário moçambicano equivalente”.
Com banda sonora de Tiago Correia-Paulo, Rui dedica-se, também, a uma história inspirada num conto de terror japonês muito antigo, "Lanterns of Nedzu". “É a história de um homem que se apaixona por um caranguejo medonho”, revela. A estrutura original foi mantida mas Rui introduziu elementos finlandeses, como “a tradição de Kekri, e nigerianos”. A curta vai ser lançada no Canadá e na Noruega.