Uma interrupção da vida que nos foi prometida

Mas não nos é dada opção. Já ninguém nos consegue deixar escolher. Já não somos donos de nós próprios

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Stringer / Reuters

Não nos é dada opção. Já ninguém nos deixa escolher. Quando éramos pequenos estávamos nas mãos dos nossos pais, responsáveis por nós, que sempre nos diziam: “Quando fores grande, podes fazer como quiseres”.

A verdade foi que eles nos iludiram na mentira de que quando fossemos maiores de idade e responsáveis, podíamos sair à noite com os amigos e beber uns copos, ter carro e ir até ao Algarve uma semana. Quando fossemos maiores de idade, podíamos ir para a faculdade e tirar um curso, para depois começar a trabalhar e arranjarmos o nosso próprio espaço.

Mas não nos é dada opção. Já ninguém nos consegue deixar escolher. Já não somos donos de nós próprios, porque apesar de sermos maiores de idade, sair à noite e beber uns copos? Custa dinheiro aos nossos pais. Conduzir? Só o carro da escola de condução. Férias? Só na praia de Matosinhos. Tirar um curso? Para quem consegue suportar as despesas, significa ir parar à “bicha” do Centro de Emprego ao fim de 3 anos. Casa própria? De próprio só o nosso quarto de sempre, na casa onde crescemos.

Somos jovens, que já não se enquadram na categoria de crianças, temos mais de 18 anos e vemo-nos obrigados a emigrar na esperança de agarrar um futuro melhor que o que nos prometem, porque aqui em Portugal já (quase) não há mais nada para nós, excepto a infelicidade de estarmos empatados no tempo, parados na interrupção da vida que nos foi prometida.

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