Quando era miúdo adorava ver o "Dartacão e os Três Moscãoteiros". Acho que geração menos geração todos vimos essa série animada. E não só em Portugal. Por essa Europa fora também, pelo menos a julgar pelas conversas que vou tendo com os meus amigos.
Era mais que uma série para distrair miúdos. Transmitia valores morais e éticos. Abordava a velha luta do bem contra o mal. Tratava temas como igualdade, respeito, liberdade, democracia e, acima de tudo, o direito a viver de forma digna.
“Um por todos e todos por um” não era apenas uma frase. Era uma ideia. Um valor. O expoente máximo da fraternidade e do altruísmo humano. E muitos de nós crescemos com essa noção: a de uma sociedade justa onde todos lutam em prol da mesma e onde era suposto termos alguns heróis sempre atentos e prontos a defendê-la. No entanto eles não existem. E pelo que vejo os nossos governantes nunca viram o Dartacão e amigos. Ou se viram não gostaram. O que me leva a crer que ou tiveram uma infância miserável ou têm muito mau gosto cultural.
Esta analogia não é inocente e fortuita. Nada disso. Tem, como vão perceber, uma ligação direta com as notícias que me chamaram a atenção durante a semana.
A primeira continua a ser a notícia que não existe. Sim, a do silêncio. Aquela que já o deveria ter sido, mas teima em não ser publicada. E isto é algo que me ultrapassa enquanto português. Como é possível alguém, eleito para defender a República, manter-se calado perante a atual situação do País? Ou quando fala é para explicar o motivo de estar calado. Um desrespeito total perante a Constituição sobre a qual jurou respeitar.
Até posso estar a ser injusto e o senhor estar a fazer o trabalho dele nos bastidores. Mas numa sociedade democrática as coisas não são feitas de jogos de bastidores. Há que ter a coragem para dizer o que se pensa em público e não atirar as decisões para conclusões do Tribunal Constitucional português.
E se efetivamente lermos a Constituição da República Portuguesa mais ainda não se percebe tal silêncio. Basta ler os artigos 1º, 2º, 9º, 21º, 58º, 63º, 64º, 66º, 70º, 72º e 81º. Mais os há, claro, mas estes seriam suficientes para que se ouvisse uma palavra. Uma intervenção digna da função que se exerce em prol do Estado, que é como dizer do Povo. Mas não. O silêncio impera em forma de medo. Não sou cuidadoso nas palavras sobre o homem que supostamente nos deveria defender: é um cobarde. E se estou errado atiro com mais um substantivo: sombra.
O Governo vai descambar
Entretanto, a sua falta de coragem deixa que três morcãoteiros façam o que querem do país. Um corre como uma lebre para a cadeirinha livre da frente armado em bom menino, o outro gosta de raspadinhas e brincar ao sobe e desce e, por fim, temos o que gosta de abrir portas desde que estas lhe proporcionem uma boa vista. A verdade é que são eles quem decide o futuro do País. E neste caso é o mesmo que dizer que estão a cavar o buraco onde este será enterrado dentro em breve.
Já a outra notícia que despertou a minha atenção é, e ao contrário da anterior, bem real. Mas não deveria ser porque, infelizmente, não tem nada de bom e muito menos ao nível ético e educacional. Refiro-me à demissão do Miguel Relvas. Arrisco-me a dizer que ele era assim uma espécie de Cardeal Richelieu. O homem que verdadeiramente mandava. O que significa que, nos próximos meses, o Governo vai começar a descambar.
Posso estar enganado e a exagerar mas não me admirava nada ver, daqui a uns meses, o Sr. Miguel Relvas sentado à mesma mesa que o Sr. José Sócrates. Ambos a comentarem a atualidade política nacional. Pelo meio a lebre desnorteada sem saber o que fazer. Ia ser qualquer coisa de extraordinário, não acham?