Zita Martins, a astrobióloga que quer mais portugueses na Royal Society

Conferência organizada por associação de jovens investigadores no Reino Unido tem como objectivo “criar pontes entre cientistas portugueses e a Royal Society”

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Zita Martins Layton Thompson

A PARSUK (“Portuguese Association of Researchers and Students in the UK)”, associação que representa investigadores e estudantes portugueses, no Reino Unido, vai organizar a conferência “Portugal and the Royal Society: Past, Present and Future”. O evento terá lugar no Imperial College, de Londres, no dia 5 de Abril.

A iniciativa está a cargo de Zita Martins, investigadora na área da Astrobiologia no Imperial College, de Londres, e de Carlos Fiolhais, professor de Física na Universidade de Coimbra.

“Este encontro tem o objectivo de criar pontes actuais entre Portugal e o Reino Unido, em particular entre a ciência feita em Portugal e os cientistas portugueses a residir no Reino Unido, e a Royal Society”, explica, ao P3, Zita Martins.

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Royal Society DR

Zita Martins está entre os jovens investigadores portugueses cujo trabalho é financiado pela Royal Society. Nesta conferência estarão presentes Gonçalo Bernardes, Paula Alexandres e Pedro Lacerda, também cientistas bolseiros desta academia científica.

Segundo a astrobióloga portuguesa, “os cientistas portugueses a trabalhar no Reino Unido são muito bem vistos e realizam ciência ao mais alto nível”.

Portugal e a Royal Society

A Royal Society é a sociedade científica activa mais antiga no Mundo (foi fundada em 1660). Segundo a investigadora, não existe, actualmente, nenhum membro (“fellow”) português, cenário que considera importante que seja alterado.

Qual é, então, a ligação de Portugal a esta sociedade? “O passado da Royal Society está intimamente ligado a Portugal. Foi fundada em 1660 pelo Rei Charles II, casado com a portuguesa Dona Catarina de Bragança. Para além disso, vários ‘fellows’ portugueses fizeram parte da Royal Society”, afirma Zita Martins.

Foram 25 os “fellows” portugueses, segundo o livro “Membros Portugueses da Royal Society”, da autoria de Carlos Fiolhais. Dessa lista, fazem parte especialistas de áreas como a Medicina, a Astronomia, a Física ou a Matemática. O mais conhecido membro português desta academia foi o Marquês de Pombal.

A ciência em Portugal

Para Zita Martins, o conhecimento transmitido nas universidades portuguesas é de elevada qualidade e, se o país quiser manter os “níveis de excelência”, é necessário um “contínuo investimento na ciência”.

Quanto à chamada “fuga de cérebros”, desencadeada pela crise, a investigadora começa por evocar o seu caso. “A minha saída de Portugal, há mais de 10 anos, deveu-se ao facto de não haver a minha área de investigação e de eu querer que o nosso país ganhasse conhecimentos e contactos nessa área. Nunca foi devido a falta de condições financeiras”, garante.

Porém, a situação mudou, segundo a cientista. “Torna-se muito complicado ficar em Portugal sem financiamentos, sem criação de posições permanentes nas universidades e sem uma ligação efectiva entre estas e a indústria. O problema da fuga de cérebros é se algum dia eles irão voltar a Portugal, depois de terem vivido tantos anos fora”, considera.

A investigadora considera ser este um bom momento para aceitar desafios e para aplicar “a criatividade portuguesa” na procura de soluções para o país, e considera estratégica a aposta em áreas como a energia solar, a eólica ou a marítima. Para além disso, sugere a criação de empresas que façam a ligação entre os laboratórios de investigação e a indústria.

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