Por uma questão de respeito pelo Presidente, o “urso mor” do reino é Cavaco Silva. Mas o primeiro-ministro Passos Coelho e o ministro Miguel Relvas andam lá perto. A “bonecada política” da cineasta Marta Pessoa é a caricatura de um país à beira-mar esquecido, são as “Figuras de Urso” que os nossos políticos fazem diariamente, mas também “somos nós” quando acreditamos em tudo o que nos dizem e “nos armamos em treinadores de bancada”.
Estávamos nas vésperas do 25 de Abril do ano passado. Marta estava no estirador a desenhar e a ouvir rádio. “Noticiava-se que o Vasco Lourenço não ia às comemorações. Depois o Manuel Alegre e o Mário Soares. Pensei ‘que grandes ursos’”. O Zé e o Tó — personagens do projecto “Figuras de Urso” — nasceram nesse dia, com uma questão: “Ó Tó, vai lá ver se encontras o caminho para o novo 25 de Abril, e depois vem cá dizer-me.”
Foi o desrespeito pelo 25 de Abril que incendiou a vontade de intervir de alguma forma. “Nasci em 1974, o meu pai esteve na guerra, a minha mãe teve de emigrar. Estas questões magoam-me.” Por isso, a cineasta de 38 anos começou a desenhar todos os dias, lado a lado com a actualidade nacional e internacional.
E inspiração é coisa que nunca lhe falta, “infelizmente”: desenha com especial prazer o “trio” já mencionado, mas fala também da Grécia e da Merkel, de Chavez e do Papa, do desemprego e da troika. “O Zé e o Tó são eles e somos nós que também fazemos figuras de urso. Quando questionamos sentados no sofá, de forma leve, à treinador de bancada”, explica Marta.
Este projecto — em exposição na associação MOB até sexta, dia 15 — é “uma das formas de intervenção” de Marta e conta com mais de 320 desenhos, disponíveis numa página do Facebook e no Tumblr pessoal.
Neste momento, a cineasta está a trabalhar na sua terceira longa metragem documental, depois de concluir Lisboa Domiciliária e Quem Vai à Guerra.