Dos EUA à Europa, a prática de agricultura vertical continua a transplantar as suas raízes. Em miúdo, João Amaro fascinava-se com plantas carnívoras. Com o tempo, começou a reparar em espécies mais mansas e hoje, aos 20 anos, concluiu que o seu investimento no Instituto Superior de Agronomia deveria ir para além de uma pilha de livros. Notou também que há quem queira "reencontrar um pouco do campo na cidade". Foi assim que abdicou do ócio das férias de Verão, lançou mãos ao trabalho e criou os "herb packs".
Resistentes às desventuras da meteorologia, os "herb packs" substituem os plásticos e argilas dos vasos convencionais por uma fibra sintética mais durável, versátil e ecológica – o geotêxtil, um tecido à base de polietileno. Embora seja amplamente utilizado em projectos de construção civil e paisagismo, o geotêxtil responde igualmente às necessidades de quem aprecia manter o seu espaço verde em casa: separa diferentes camadas de solo e facilita a oxigenação das raízes das plantas. No caso dos "herb packs", oferece também resistência aos raios ultravioleta e, como é permeável, previne um erro comum dos entusiastas mais desatentos: a acumulação de água por excesso de rega, causa frequente da morte de plantas domésticas.
Mas a ideia por detrás do desenho do vaso não beneficia apenas as plantas: "Isto tem mais de objecto estético e funcional, porque rentabiliza o espaço disponível em casa; pode-se preencher as paredes exteriores com 'herb packs' e ficar-se ainda com espaço livre na varanda, se houver uma", explica João Amaro. A frequentar o terceiro ano da licenciatura em Arquitectura Paisagista, na Universidade Técnica de Lisboa, o jovem empreendedor tem no Facebook o grande veículo de divulgação e comercialização da sua marca.
Sálvia tricolor
A Herb Pack germinou sem um plano de negócios predefinido e através de "bootstrapping", isto é, com o investimento reduzido do próprio criador. Depois de estabelecer uma rede útil de contactos e encontrar soluções económicas para o fabrico do produto, João vem colhendo os frutos do que semeou no Verão de 2012. O actual volume de encomendas fê-lo preparar-se para distribuir os vasos em lojas físicas e online. O passo seguinte, adianta, "pode ser a internacionalização".
As fontes de sustentabilidade "home made" não combatem apenas os flagelos ambientais das grandes cidades. Para João, trata-se também de uma questão de poupança, uma vez que "é mais fácil cultivar alimentos em casa do que ir ao supermercado comprá-los e depois ainda haver desperdício, porque muitas vezes as pessoas acabam por não consumir tudo o que compram". Pode ser ainda uma oportunidade lúdica de contactar de perto com a botânica e alargar conhecimentos: "As pessoas conhecem o manjericão e o tomilho, mas se calhar não sabem que existe sálvia tricolor ou erva-do-caril, que têm uma grande usabilidade em casa".
Maleáveis e fáceis de pendurar em janelas e paredes, os "herb packs" estão actualmente disponíveis em três tamanhos. Os vasos S – de 14cm – foram concebidos para o cultivo de ervas aromáticas e medicinais, ao passo que os vasos M – de 28cm – se adequam melhor ao crescimento de espécies hortícolas como o morangueiro ou a rúcula. As floreiras ocupam 65cm de comprimento e oferecem, como sugere o nome, a possibilidade de assomar à rua um pequeno jardim (e porque não uma pequena horta?).
Artigo corrigido em 25/3/13 O nome correcto é Instituto Superior de Agronomia — e não Faculdade de Agronomia, como estava anteriormente escrito.