Samuel Negredo: “Os jovens jornalistas devem ser humildes”

Vale a pena "trabalhar em silêncio por um longo tempo", aproveitando a Internet para tornar o trabalho visível. Conselhos do jornalista e investigador espanhol Samuel Negredo

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Pietro Naj-Oleari/European Parliament / Flickr

Natural de Zaragoza, Samuel Negredo, jovem jornalista, tem-se dedicado à investigação do jornalismo online, esse (será?) "bicho de sete cabeças". Professor na Universidade de Navarra, defendeu no início do mês a tese de doutoramento "El vídeo de producción original en cibermedios. Análises de Elpais.com, Elmundo.es, Lavanguardia.com e Lainformacion.com", orientada por Ramón Salaverría. Conclusão: maior liberdade de "narrativas" do que na televisão, uma proliferação "notável" de transmissões de vídeo ao vivo, o "enorme potencial" da Internet à descoberta. Na quinta-feira estará presente na conferência "Jornalismo online: ensino, práticas e novos modelos de negócio", organizada pelo P3. Tema em cima da mesa: O Ensino Integrado do Jornalismo Online. Aqui ficam algumas pistas numa entrevista por e-mail em contra-relógio.

Que balanço traça do jornalismo online em Portugal?

Li alguns estudos académicos que falam de um desenvolvimento limitado por causa de uma escassez de recursos humanos nas redacções, mas também há muitos casos em que as coisas são bem feitas, pelo menos na concepção e design do produto. Os prémios ÑH da secção ibérica da Society for News Design mostram a cada ano que, pelo menos nesse aspecto, há desenvolvimento, ousadia e talento. Sei que, tal como em Espanha, os jornais nacionais de prestígio lideraram o desenvolvimento do jornalismo web em Portugal, e o desafio continua a ser não permanecer em uma zona de conforto. No meu país, a televisão e os "nativos digitais" competem directamente no domínio da informação, mesmo que este universo se tenha desenvolvido mais tarde do que os sites de jornais. Por outro lado, é uma alegria ver o nascimento de novas iniciativas de informação projectadas especificamente para a Internet; ver depois que essas iniciativas são sustentáveis é uma alegria ainda maior.

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Samuel Negredo é jornalista e professor na Universidade de Navarra

Defendeu a sua tese no início do mês. O que estudou? A que conclusões chegou?

Estudei os vídeos produzidos para três sites de jornais e um "pure player". Além de fazer uma revisão de publicações anteriores, analisei 522 vídeos originais, ou seja, todos os que foram publicados nos quatro sites em seis semanas. Depois entrevistei os responsáveis nas redacções. Percebi que o vídeo original na Internet não pretende cobrir todas as notícias, mas sim apenas aquelas mais apropriadas para relatar com imagens. Embora a qualidade seja bastante elevada, são aceites muitas mais narrativas do que nas notícias da televisão. E, como na televisão, a informação é apenas parte da oferta total de vídeo em sites de jornais. Há entretenimento, curiosidades, música ao vivo... e até mesmo pequenas produções sobre ciência e história. Nos últimos doze meses, é notável a proliferação de transmissões de vídeo ao vivo.

O futuro das redacções passa pela convergência?

Não necessariamente a 100%, mas é um fenómeno tão grande que eventualmente vai ganhar alguma dimensão nos média. Há convergência empresarial porque é inevitável que os média aproveitem recursos existentes para estarem presentes em novas plataformas, embora certos desenvolvimentos exijam atenção completa. Há convergência profissional porque o jornalista que tem mais capacidades é mais competitivo num mercado de trabalho difícil. Há convergência narrativa, mas a linguagem da Internet é mais do que a digitalização e hibridização de linguagens da imprensa, rádio e televisão — tem um potencial enorme em si mesmo. E a convergência tecnológica torna tudo isto possível, embora cada vez mais se tenha de trabalhar para dispositivos diferentes que são usados em contextos diferentes.  

Na conferência "Jornalismo online: ensino, práticas e novos modelos de negócio" vai falar sobre o ensino integrado do jornalismo online. Que actualizações reclama?

Pelo menos na minha faculdade [Universidade de Navarra], acabamos de terminar a implementação do novo currículo de Jornalismo que, finalmente, dá a mesma importância à imprensa, rádio, TV e Internet, permitindo que os alunos tenham um bom desempenho em todas as áreas, enquanto se especializam na que lhes interessa. Agora, assim como acontece nas redacções, temos que trabalhar em coordenação e ser muito exigentes connosco para estabelecer itinerários coerentes para descobrir, aprender e até mesmo dominar as formas de jornalismo mais intensivas e próximas da tecnologia.

Que conselhos daria aos jovens jornalistas?

Um jovem jornalista pode-se especializar numa área, procurar formação complementar ou, até logo durante a faculdade, começar a trabalhar a informação, lidando com fontes, escrevendo e publicando no seu próprio blogue; ou pode-se especializar em formatos de informação, se falarmos dos que exigem capacidades mais técnicas como a produção audiovisual avançada ou a construção de aplicações informativas, que pressupõem conhecimentos de programação. A especialização não deve ser incompatível com a versatilidade. Nós, os jovens jornalistas, devemos ser humildes e, às vezes, trabalhar em silêncio por um longo tempo, mas também aproveitar todas as chances para tornar visível o nosso trabalho. É um incentivo para fazer melhor.

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