Se está a chover, conduz “com ‘style’”. Sempre “concentradíssimo” — há que respeitar o conselho tantas vezes repetido por Futre. Já a máxima viral de Hélio (transposta para “o medo é uma cena que lhes assiste”) é aqui aplicada à segurança dos motociclistas na estrada. Tudo para levar meio mundo a dizer: “Se podíamos viver sem a Polícia? ... não, não podíamos!” Soa familiar?
Criado em 2010, o Facebook da Polícia de Segurança Pública (PSP) é, realmente, um mundo novo. A estas máximas, para além das típicas fotografias das detenções metodicamente organizadas, juntam-se outras, como a adaptação do dito “Keep Calm and...” ou a característica campanha que apela ao uso do cinto pelas crianças: “Agarre-o à vida... deixe-o chorar! Antes ele do que você!” Já foi anunciada a localização dos radares (“Quem o avisa...”), e até há espaço para eventos bem específicos — a destruição de armas, uma acção regular da PSP, teve direito a evento público com convidados à maneira.
Responsabilidade de Paulo Ornelas Flor, polícia, de 35 anos, "madeirense genuíno", director do Gabinete de Imprensa e Relações Públicas da PSP desde 2008, o culpado pela mudança de estratégia a nível da comunicação. É ele quem, juntamente com outros polícias, comunica nas redes sociais da força de segurança, incutindo um tipo de discurso que não costuma ser norma em entidades institucionais. “Tentamos tirar um pouco aquele peso que muitas vezes é característico de instituições como esta”, descreve ao P3 em entrevista via Skype, agendada conforme a disponibilidade do seu “tablet”.
E quando a PSP é alvo de críticas?
Apesar da história “secular” (“Consigo desde 1867, todos os dias!” é o slogan actual), há que “olhar para o futuro”. Mas não há cá empresas de "marketing" associadas. “Conseguimos perceber que conseguimos fazer este tipo de comunicação com a prata da casa.” "Brainstorming" só entre polícias — as montagens são feitas em Adobe Photoshop ou CorelDRAW, com recurso a imagens do fotógrafo-polícia oficial ou oriundas de plataformas como o Stock.xchng. É a materialização daquelas que hoje são as “necessidades” dos cidadãos, diz Paulo. “As pessoas precisam e têm pouco tempo para contactar connosco; o tempo que têm tem de ser aproveitado ao máximo.” E para além das esquadras — através de e-mail, Facebook, Twitter, uma aplicação para Windows 8 ou Messenger no site da PSP (ou, quem sabe, Skype no futuro).
Ser “o mais transparente possível” é um dos objectivos, daí já terem sido divulgadas as localizaçãos dos radares e, possivelmente no futuro, a realização de operações STOP. A lógica, virtual pelo menos, passa por “comunicar e prevenir, mais do que reprimir exclusivamente”.“As redes sociais permitem comunicar com as pessoas sem qualquer crivo jornalístico. Podemos dizer o que fazemos diariamente, o bom e o mau.” Claro que esta política de proximidade tem uma outra face. Eventos como o da semana semana, quando a PSP usou gás pimenta numa manifestação de estudantes do ensino secundário, em Braga, ou o protesto de 14 de Novembro em frente à Assembleia da República, onde a actuação policial foi fortemente criticada, tornam o Facebook no “corolário da mediatização”. “Somos a face visível daquilo que se passa no terreno”, confessa. Na última situação, como noutras, a PSP emitiu um comunicado e, claro, também recebeu milhares de comentários, “alguns mais agradáveis do que outros”. Todos são aceites, alguns respondidos, desde que não infrinjam as regras de conduta. Em casos continuados de “linguagem obscena” ou “incitações à violência” chegam a banir os utilizadores em questão.
Adeus polícia “barrigudo” de “bigode”
Como em tudo nisto das redes sociais, há momentos que roçam a... viralidade, ou não estivessem em jogo já mais de 80 mil gostos. A imagem de um polícia com um cão ao colo, acompanhada pela mensagem “obrigado pela coragem e por não deixarem ninguém para trás!” foi a mais popular até hoje no Facebook da PSP, com quase três mil partilhas. Não correu o mundo como aquele outro abraço, é certo, mas deu para perceber que “as pessoas se identificam com este género de discursos”.
As redes sociais tornam-se assim uma forma de humanizar uma instituição feita “por polícias que são muito mais do que fardas, muito mais do que carros-patrulha” e que tenta assim “libertar-se do estigma de que as forças de segurança só existem para reprimir ou encontrar a multa”. Diz Paulo Ornelas Flor que a PSP está mais jovem e que já se ri. Pelo menos mais um bocadinho. “Não queremos ser o velho polícia, independentemente de merecer todo o nosso respeito, barrigudo, de bigode, com aquele ar austero. Teve o seu momento, (...) mas é importante perder esse estigma. Sorrir, olhar para os problemas e, se possível, com um sorriso.”