Obituário da carreira desportiva de Lance Armstrong

A Carreira Desportiva deixa ainda uma irmã difamada e na miséria, a Carreira Humanitária que tanta gente que padecia de cancro ajudou

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Tiago Leal

Em estado crítico já há alguns meses, a Carreira Desportiva de Lance Armstrong acabou por não resistir às graves lesões de que padecia, vindo a falecer na passada semana, em Austin, no Texas.

A Carreira Desportiva de Lance Armstrong (podia abreviar como CaDeLA, mas por respeito neste momento difícil, não o vou fazer) foi vítima de uma vontade insaciável de vencer a todo o custo do seu proprietário, passando por cima de todos os valores éticos e morais que fosse necessário, para que as vitórias nunca lhe escapassem.

Os sinais da doença começaram a meio dos anos 90, mas, como não existia um diagnóstico capaz de detectar os sintomas e todas as suas companheiras sentiam o mesmo, a Carreira Desportiva não ligou e seguiu o seu caminho de vitórias.

Anos mais tarde, estava já a CaDeLA, desculpem, a Carreira Desportiva no seu auge quando os sintomas se tornaram perfeitamente visíveis. Foi tentada a reanimação, por subornos às entidades que haviam detectado os sintomas, pelos media mais próximos do dono da Carreira e por gabinetes de advogados pagos a preços de ouro, mas já nada havia a fazer.

A Carreira deixa eterna saudade a amigos e admiradores, que ficam órfãos de exemplo a seguir, e um dono órfão de vergonha na cara, com sete camisolas amarelas que já só servem para dormir (que mesmo assim, fica com uma para cada dia da semana, não se pode queixar). A Carreira Desportiva deixa ainda uma irmã difamada e na miséria, a Carreira Humanitária que tanta gente que padecia de cancro ajudou, não se sabendo, até ao momento, com que rendimentos poderá sobreviver no futuro.

O elogio fúnebre foi proferido por Oprah Winfrey, que ao longo de duas horas, recordou com o desportista os tempos em que ele promoveu a CaDeLA, ai, a sua Carreira, ao injectar-se com EPO, testosterona e transfusões de sangue, batendo-se, assim, de igual para igual para com os seus adversários. O desportista referiu ainda que, “se em 200 ciclistas que correm o Tour, cinco não tiverem "doping", esses serão os meus novos heróis…”, deixando o lugar de herói de Armstrong, de ser ocupado pelo Homem-Aranha, o qual, como se sabe, também deve os seus poderes a uma picada.

Lágrimas de soro

A conhecida entrevistadora teve o cuidado de pedir a Lance Armstrong que contasse a forma como os seus filhos reagiram à morte da sua Carreira Desportiva, permitindo-lhe que deixasse cair duas lágrimas de soro que tinha posto nos olhos antes da pergunta, de forma a que toda a gente ficasse ciente do seu arrependimento e culpa.

Os coveiros, colegas de profissão de Lance Armstrong que não souberam disfarçar tão bem os sintomas como ele, nunca ganharam nada de jeito e cuja Carreira Desportiva também havia já falecido, deram mostras da sua amizade, ajudando a abrir a cova, de onde se espera que a Carreira de Lance não mais volte a sair.

A menos que ele conte tudo o que se sabe, claro. Sim, porque o homem tem o sonho de “participar na histórica maratona de Chicago”, e quando ele quer muito uma coisa…

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