Um relatório divulgado pela organização internacional WWF conclui que o comércio ilegal de animais selvagens representa cerca de 15 mil milhões de euros anuais, fortalece as redes criminosas, compromete a segurança nacional e tem riscos para a saúde.
De acordo com o relatório "Luta contra o tráfico ilícito da vida selvagem: uma consulta com os governos", apresentado esta semana num encontro de embaixadores das Nações Unidas, em Nova Iorque, o comércio ilegal de animais selvagens ocupa o quarto lugar nas transacções ilegais internacionais, depois da contrafacção, da falsificação e do tráfico de seres humanos.
Os lucros obtidos com o tráfico dos animais selvagens “são usados para comprar armas, financiar conflitos civis e subsidiar as actividades terroristas relacionadas”, avança a WWF, em comunicado. Segundo a organização, “o comércio ilegal da vida selvagem vale, pelo menos, 19 mil milhões de dólares por ano” (cerca de 14,7 mil milhões de euros).
“O envolvimento do crime organizado e dos grupos rebeldes tem aumentado, de acordo com entrevistas feitas a governos e organizações internacionais conduzidas pela empresa de consultadoria do grupo Dalberg”, revela a organização.
Segundo a WWF, os inquiridos concordam que a ausência de aplicação da lei e as penas leves reduzem os riscos para os grupos criminosos, e realçam que a grande procura é agravada pelo aumento da acessibilidade a produtos de animais selvagens ilegais, através da Internet.
Crime transnacional
Por outro lado, os inquiridos destacam que o comércio ilegal de animais selvagens “quase sempre é visto pelos governos como um problema exclusivamente ambiental e não é tratado como um crime transnacional e uma questão de justiça”. Quanto aos governos, “reconhecem que uma abordagem sistemática e com maiores recursos é necessária para combater o tráfico ilegal de animais selvagens”, assim como a colaboração entre ministérios e a utilização de técnicas mais modernas.
O crime contra a vida selvagem “tem aumentado de forma alarmante na última década. É impulsionado por organizações criminosas a um nível global e, por isso, precisamos de uma resposta ao mesmo nível”, afirmou o director-geral da WWF Internacional, Jim Leape, citado no comunicado.
“A procura destes produtos de animais selvagens ilegais aumentou, ao mesmo tempo que houve um crescimento económico nos países consumidores”, disse o director executivo da rede Traffic, Steven Broad, igualmente citado no comunicado da WWF. Segundo o relatório, 2011 foi um ano recorde de abate ilegal de elefantes.
Mais de 23 toneladas de presas de elefante foram confiscadas em 17 grandes operações de fiscalização. Para aquele número de presas, terão sido mortos 2500 animais, segundo o relatório da WWF.
Na África do Sul, a caça ilegal ao rinoceronte subiu 3000 por cento entre 2007 e 2011. Só em 2011, foram mortos 448 animais. O Governo sul-africano está a oferecer recompensas que podem chegar aos 90.000 euros para quem ajudar a identificar os caçadores ilegais.
“No Parque Kruger, a caça ilegal chegou a um nível de crise, estamos a perder um rinoceronte por dia”, afirma o director da Agência Nacional de Parques da África do Sul, David Mabunda, citado pela agência de notícias AFP.