Quem olha não percebe o que está ali escrito. Mas ali está escrito “Já olhei para o teu rabo!” e “Quando estou de dieta como um kilo de gelado!”. E podem estar outras coisas, basta pensar e encomendar por 20 euros. Adriana Assunção, designer de comunicação, desenha palavras que não são óbvias ao primeiro olhar, que só se percebem em superfícies espelhadas. Há poucas semanas, decidiu criar uma linha de t-shirts com confissões personalizadas. Cada cliente, uma mensagem. Cada cabeça, sua sentença. E a imaginação, já se sabe, é fértil.
A ideia surgiu numa noite de insónia. O conceito não andava longe. Em tempos, Adriana tinha criado uma colecção de postais com mensagens escondidas na sobreposição de acetatos da mesma cor. O clique acabou por surgir. Escrever histórias nas camisolas foi a primeira coisa que lhe veio à cabeça. “Nunca gostei das t-shirts como elas são e faço sempre alterações”, conta. Acabou por concentrar-se nas mensagens que só se se conseguem ler ao espelho. “T-shirts pessoais, mais interessantes”, descreve. Algumas horas sem dormir e a marca Eu Confesso via a luz do dia. E para vincar o conceito das letras escritas ao contrário, resolveu virar do avesso as camisolas, com as costuras à mostra. Adriana trabalha em casa, não tem loja aberta, mas anda a sondar a possibilidade de pôr as suas criações à venda em espaços espalhados pelas cidades.
O negócio é recente e Adriana faz questão de acompanhar todo o processo. Espreita em armazéns de tecidos para escolher o melhor algodão, passa a matéria-prima para as mãos de uma costureira experiente que faz as t-shirts de raiz, viradas do avesso para condizer com o conceito. Camisola na mão, usa o stencil para escrever à mão a mensagem escolhida – até agora mensagens de amor sobretudo. “São mensagens muito específicas. Faço algumas perguntas para perceber o sentido, mas não entro em pormenores”, adianta. E o que é que Adriana escreveria na sua t-shirt? “Eu confesso que nunca me confessei”. Esta seria apenas uma frase.
O cartão de apresentação da Eu Confesso anuncia que se pode escrever o que se quiser numa camisola. “Sabes aquilo que só tu sabes e não queres que ninguém descubra? Nós descobrimos...”. E exemplifica com uma mensagem que só se percebe quando é lida no vinil do cartão. Adriana está já a desenhar acessórios para as camisolas, como golas de tirar e pôr, e admite voltar aos postais. Ou seja, usar vinis que permitem ler o que não é perceptível à primeira vista.
Adriana tem 30 anos, é professora e está, neste momento, desempregada. Deu aulas durante seis anos, mas este não conseguiu colocação. Saiu do ensino desencantada com a pouca importância dada à área criativa. “Os miúdos são formatados para os testes, trabalha-se só para as estatísticas”, comenta. Mesmo assim, continua a mandar currículos para ateliers de Design – e é o Design Gráfico que mais a fascina – e para escolas que tenham oficinas ligadas à sua arte. Quer dar um passo de cada vez e já anda de olho em novas técnicas para escrever mensagens nas t-shirts. “Prefiro andar devagarinho, fazendo aquilo de que gosto”, confessa ao P3.