Arquitectas criam “casas” portáteis em cortiça para os sem-abrigo de Lisboa
Projecto Cidades COM Abrigo é um dos finalistas do concurso Cidades Perfeitas. Feitos em cortiça, os abrigos portáteis seriam uma solução para minimizar a miséria nas cidades
A ideia foi ganhando forma à medida que percebiam o cada vez maior número de sem-abrigo nas ruas de Lisboa. Passava-lhes pela cabeça que os cartões velhos ou os bancos de jardim feitos cama eram evitáveis. Sandra Marques de Oliveira e Catarina Freire Filipe queriam uma cidade com menos miséria e sofrimento, com mais solidariedade.
O Cidades COM Abrigo, um dos três projectos finalistas do concurso Cidades Perfeitas, da revista "Visão" e da "Siemens", quis “reinventar a arquitectura” e construir algo completamente novo.
Desempregadas há cerca de um ano, as arquitectas de 33 e 34 anos desenharam uma solução para os sem-abrigo: os abrigos de cortiça (e portanto, sustentáveis) são portáteis, extensíveis (sistema de caixa de fósforos), modelares e auto-suficientes (têm um depósito de água e painéis solares).
Como um carrinho de supermercado
Quando fechados, os abrigos S e M podem ser transportados como se fossem um carrinho de supermercado, os L e XL podem ser transportados como uma "roulotte".
Os módulos mais pequenos são pensados para uma ou duas pessoas, são uma espécie de casa particular, com tamanho suficiente para dormir deitado, para trabalhar ou cozinhar. Podem ser transportados facilmente pela cidade.
Os maiores são pensados como espaços comuns – para refeições, higiene, cuidados básicos de saúde, formação e inserção na sociedade. A nossa ideia é fazer parcerias com as autarquias para que estas disponibilizem terrenos baldios para a instalação destes espaços”, explicou ao P3 Sandra Marques de Oliveira.
Uma nova forma de publicidade
Para já, as duas amigas estão em negociações com a Câmara Municipal de Lisboa e depois querem partir para o Porto. Ainda não sabem a que preço sairá cada módulo, mas acreditam que um dos grandes trunfos do Cidades COM Abrigo é exactamente a sustentabilidade financeira: os módulos “foram também pensados para fazer publicidade, de forma a serem autofinaciados”.
“Estamos a reinventar um novo suporte de publicidade que funciona de forma semelhante à [publicidade] dos táxis, mas associado a causas nobres”, acredita Sandra Marques de Oliveira.
A "resposta temporária" criada pelas amigas, licenciadas em Arquitectura pela Universidade Lusíada de Lisboa, não quer ser mais do que isso mesmo: uma solução imediata capaz de dar mais conforto a um nicho da população. "Obviamente que tirar os sem-abrigo da rua era o ideal, mas isso é outro projecto."