O concerto dos The Black Keys no Pavilhão Atlântico foi bom. Competente. Profissional. E breve. Demasiado breve para uma banda com mais de dez anos.
A produção foi quase imaculada. O "live feed" não reproduziu simplesmente o que se passava em palco. Reflexos, cores e espelhos serviram para levar o público a estar atento ao que passava nas telas.
Também o trabalho do"VJ" foi alvo de atenção. Montagens, baterias e imagens do "El Camino" na música mais aguardada da noite, todas bem conseguidas. Notaram-se sem se sobreporem aos heróis da noite. Dan e Patrick foram enérgicos como expectável, embora Auerbach não merecesse a traição do microfone na abertura explosiva de "Howlin’ for you". Nem o público.
O blues e o rock estiveram bem representados no poder da cadência e na gritaria prantosa da guitarra. Os sons mais comerciais de "El Camino" e "Brothers" animaram uma sala que provou estar lá para ouvir isso mesmo. "El Camino e pouco mais".
A roupagem em "Sinister Kid" foi quase ignorada, "Thickfreakness" levou alguns a mexer, fruto das ordens do "riff" e só "I Got Mine", a última música apresentada, teve a devida apoteose (musical e visual) por parte da massa maioritariamente "teen" que encheu a plateia do Atlântico.
Ficam na memória, além das acima referidas, "Little Black Submarines", "Next Girl", "Gold on the Ceiling", "Everlasting Light" (graças à bola de cristal e ao ambiente de bar que criou) e, claro, "Lonely Boy". Uma das grandes ausências foi "Have Love Will Travel", engolida (talvez) pela necessidade de respeitar a duração do concerto.
Noventa minutos são escassos para uma banda que se estreava nos nossos palcos. Apesar da promessa de voltar, o público português merecia mais esta noite, não numa próxima.
Apesar das inúmeras tentativas, o duo americano não incorpora nem transmite uma imagem de "entertainer". Não prima pela criação de empatia com o público. Objetos lusos lançados para o palco foram ignorados, a saída de palco não correspondeu ao discurso que a antecedeu.
Mas a função dos The Black Keys foi inteiramente cumprida: trazer a eletricidade do rock n’ roll mesclado com a melancolia do blues ao público português. Quanto aos The Macabees, tentaram esforçadamente passar uma sonoridade que está moribunda. E à qual nada acrescentaram.