Apesar do abrandamento, Draghi diz que economia está sólida

Sinais menos positivos na zona euro não alteraram discurso do BCE sobre a forma como irão ser retirados os estímulos monetários à economia.

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Vítor Constâncio, na sua última conferência de imprensa como vice-presidente do BCE, cumprimenta Mario Draghi LUSA/RONALD WITTEK

Os recentes sinais de abrandamento dados pela economia da zona euro não chegam ainda para preocupar o presidente do Banco Central Europeu (BCE), que continua a falar de uma expansão “sólida e abrangente”, não dando sinais de querer prolongar as medidas de estímulo monetário mais do que estava até agora previsto.

Na conferência de imprensa que se seguiu à reunião desta quinta-feira do conselho de governadores do BCE, Mario Draghi passou a maior parte do tempo a fazer uma avaliação do desempenho actual da economia da zona euro.

Minutos antes, as decisões de manter as taxas de juro a zero e de reafirmar o plano de comprar dívida pública nos mercados até ao próximo mês de Setembro pelo menos, tinham sido tomadas sem surpresas e, nos mercados, a expectativa era apenas a de saber até que ponto é que os responsáveis do BCE poderiam mudar de discurso por força dos resultados menos fortes registados pela economia da zona euro (e em particular a alemã) nos últimos meses.

Draghi reconheceu que tem havido, nos primeiros meses deste ano, indicadores que revelam uma inflexão no forte ritmo de crescimento registado na zona euro durante o ano passado, mas defendeu que, “no geral, se espera que o crescimento se mantenha sólido e abrangente”. “Em suma, é preciso cuidado a ler estes desenvolvimentos, mas este cuidado tem de ser temperado por uma confiança inalterada na convergência da inflação até ao nosso objectivo”, disse.

Na condução da sua política monetária, a BCE tem como meta a manutenção da estabilidade de preços que é definida como uma taxa de inflação no médio prazo “abaixo mas próximo de 2%”. A inflação na zona euro tem-se mantido, apesar da retoma da economia, ainda consideravelmente abaixo dos 2%. No entanto, os responsáveis do banco central têm vindo a revelar uma confiança crescente de que, com a economia a acelerar, a inflação vai aproximar-se mais das metas, permitindo que a autoridade monetária comece a preparar um fim das compras de dívida pública que ainda realiza e, depois, um início da subida das taxas de juro.

Apenas uma travagem da economia – e o efeito que isso teria na evolução dos preços – poderia levar o BCE a mudar os seus planos, prolongando ainda por mais tempo os estímulos extraordinários que tem vindo a colocar em prática desde o início da crise.

A conferência de imprensa desta quinta-feira foi a última em que Mario Draghi teve a seu lado, como vice-presidente do BCE, Vítor Constâncio. O português irá abandonar em Maio o cargo que ocupa há 10 anos e foi, por isso, convidado a fazer um breve balanço do período em que esteve em Frankfurt. A forma como os estímulos extraordinários oferecidos pelos bancos centrais mudaram a forma de conduzir a política monetária foi a ideia central transmitida por Constâncio. “O conjunto de medidas não convencionais usado durante a crise fazem agora parte dos instrumentos à disposição dos bancos centrais. Tenho dúvidas que possamos voltar à vida simples que antes existia na política monetária com balanços de pequena dimensão e apenas tentando influenciar as taxas de juro de overnight”, disse o vice-presidente.

Mario Draghi, dirigindo-se ao antigo governador do Banco de Portugal, disse que foi “uma presença fundamental no conselho de governadores do BCE”, com os “seus conselhos e paixão”.

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