Um grupo de arquitectos, da geração que se sente mais afectada pela situação de crise que está a assolar o país, está a promover uma “Concentração Portuguesa de Arquitectos em Mação” (CPAM), que terá lugar nos dias 9, 10 e 11 de Novembro, nesta vila situada no centro geodésico de Portugal.
Esta CPAM (acrónimo cuja escolha terá levado em conta a sua proximidade sonora com aquele que designa o lixo electrónico, SPAM) “nasce da inquietação perante o estado actual do exercício da arquitectura em Portugal, da generalização da prática à diversificação dos modos de exercício, da crise cultural ao atrofiamento institucional”, escrevem os organizadores no texto de lançamento do encontro, que pode ser consultado no blogue. E a escolha de Mação resultou do “desejo de abrir o espaço de debate a arquitectos de todo o país”, explica ao PÚBLICO André Tavares, um dos 13 nomes que integram a comissão organizadora da CPAM, notando que neste grupo estão licenciados nas universidades do Porto, Coimbra e Lisboa.
“O nosso projecto é mobilizar os arquitectos para que eles se manifestem perante o poder. Estamos a atravessar momentos de crise, e temos de reflectir sobre a inquietude em que nos encontramos”, diz Magda Seifert, também da equipa organizadora. “É preciso provocar o debate, sem qualquer constrangimento”, e fazer com que todos se manifestem sobre aquilo que “os arquitectos podem fazer nesta situação de crise”, acrescenta André Tavares, justificando também a linguagem provocatória com que a CPAM é apresentada: “A arquitectura em Portugal vive tempos de combustão abafada. Prepara-se em Mação a arena de uma concentração, onde seja possível atiçar as brasas e espalhar o fumo. Uma arena que seja um espaço de convergência e de ataque. Uma arena que conduza à definição de um diagnóstico comum, sobre este impasse incómodo onde a arquitectura se encontra”.
Internacionalizar
Madga Seifert enuncia algumas das faces desse impasse: “Não há obra pública, não há concursos, não há trabalho”. Mas a arquitecta refere também problemas como o da legislação ou o da internacionalização. “É preciso discutir, por exemplo, se não poderíamos internacionalizar a nossa arquitectura em vez de internacionalizarmos só os arquitectos, que já são reconhecidos lá fora”. Ou seja, criar condições para que “os arquitectos portugueses possam trabalhar para fora, mas mantendo-se em Portugal”, sem serem constrangidos a emigrar.
A agenda de trabalhos da CPAM — que, dizem os organizadores, não tem a pretensão de se substituir ao congresso da Ordem dos Arquitectos, que deveria realizar-se este ano — vai centrar-se, sobretudo, no dia 10 de Novembro, numa maratona de intervenções entre as 14h e as 02h da madrugada seguinte, em que os participantes serão convidados a discutir sem rede, no palco do Teatro Municipal de Mação, as questões mais prementes da arquitectura em Portugal.
Até ao momento, há já mais de uma vintena de oradores confirmados, e entre eles estão nomes como José Mateus, Nuno Valentim, Paulo Mendes Barata, Maria Manuel Oliveira, Luís Santiago Batista. Já a manhã do dia 11 será dedicada “a colar os cacos partidos na véspera”, anunciam os promotores da CPAM.