Tudo começou quando um projecto para a escola sueca, via Skype, se transformou numa oportunidade de trabalho. Com Mariana Moura Santos, profissionalmente, tudo aconteceu rápido e de forma pouco convencional. Esta algarvia de 29 anos trabalha como "interaction & motion designer" no jornal britânico “The Guardian”, onde são todos “uns porreiros”. Mariana assume-se como uma esponja, “a aprender tudo o que ensinam e partilham”. “Eles querem mesmo formar pessoas no jornal”, sublinha.
Em 2010, quando passou a integrar a equipa responsável pelos conteúdos interactivos do site da publicação, Mariana teve um primeiro trabalho de sonho — e de fogo —, a cobertura do caso Wikileaks. “Foi um projecto super secreto, proibiram-me de falar sobre ele. Era a primeira vez que trabalhava numa redacção, foi incrível.” Seguiram-se vários outros mas o que mais a marcou aconteceu em 2011, aquando dos motins em Londres.
Mariana Santos viveu estes motins na pele: “Foi horrível e, ao mesmo tempo, estranho”. “Em Londres, todas as pessoas se baseavam no Twitter para saber o que estava a acontecer perto de suas casa”, relata. A rede social de "microblogging" tornou-se a principal fonte de informação sobre a segurança de várias zonas da cidade e o jornal resolveu fazer um trabalho sobre o poder das palavras das pessoas.
“Reading the Riots” envolveu 2.6 milhões de "tweets" e, juntamente com uma equipa de académicos que desenvolvem algoritmos, foi possível perceber como cada rumor sobre os motins se espalhou. Foi um projecto que moveu a equipa toda ao mesmo tempo (vê vídeo ao lado), num desafio que obrigou Mariana a trabalhar directamente com o Twitter por uma “questão de segurança pública”.
Hoje Mariana Santos dá "workshops" pelo mundo todo e, quando o P3 a entrevistou, estava em Porto Alegre, Brasil, para participar na 25.ª edição do SET Universitário — Limites Ampliados, um ciclo de formações e palestras destinados a estudantes de comunicação.
De escultora a designer
Quando se mudou de Faro para Lisboa, para frequentar a universidade, começou por estudar Escultura. Decidiu, pouco tempo depois, mudar para Design de Equipamento porque “partia os moldes todos”. Ainda assim não ficou convencida e começou a juntar-se à turma de Design de Comunicação, tendo chegado a frequentar os dois cursos em simultâneo. No 5.º ano da licenciatura candidatou-se a Erasmus e foi viver para Saint Etienne, França.
Foi, precisamente, quando estudava em França que Mariana conseguiu o seu primeiro trabalho, mas na Alemanha. Numa viagem de lazer teve a oportunidade de participar numa entrevista para a Universal Music. “Gostaram do meu à vontade, porque eu não achava que ia ficar; era só para treinar uma situação de entrevista”, explica. Mas o seu “portefólio gigante cheio de desenhos” impressionou a editora discográfica e foi em Berlim que Mariana aprendeu a fazer "motion design" e filmes para artistas como Mariah Carey ou Mika.
Pelo caminho, entre Saint Etienne e Berlim, Mariana escreveu um livro sobre a experiência Erasmus. Em “Se não acreditas em ti, acreditas em quê?”, editado em 2007, a jovem algarvia fala sobre “o grande percurso pessoal de auto-reflexão” que viver no estrangeiro lhe proporcionou durante a faculdade .
No regresso a Portugal, não se identificou com o tipo de trabalho que as agências de publicidade desenvolviam e optou por inscrever-se na Hyper Island, uma prestigiada escola sueca vocacionada para novas tecnologias. Foi aceite e mudou-se para Estocolmo. Para um projecto de Digital Media teve de entrevistar vários profissionais do "motion design" e uma dessas conversas, com um designer do “The Guardian”, valeu-lhe um convite.
“Acabámos por ter de falar via Skype e ficámos horas a conversar”, conta Mariana, que nem queria acreditar quando um dos seus actuais chefes a convidou para trabalhar no jornal inglês. Três semanas depois da maratona no Skype, a jovem portuguesa estava em Londres, a viver numa casa cedida por um amigo e a ambientar-se à cidade.
“Não se vive à grande, mas a relação material é muito diferente da que temos em Portugal”, compara. Já mudou de casa três vezes mas está feliz por, finalmente, viver a cinco minutos do jornal e poder nadar antes do trabalho e deslocar-se de bicicleta pela cidade.