De 24 a 30 de Setembro, realizar-se-á por todo o país a Semana Nacional de Luta em Defesa da Cultura, Contra a Austeridade, convocada e promovida pelo Manifesto em Defesa da Cultura. Coimbra não quis ficar para trás.
Se me perguntarem qual é para mim a importância da Cultura, não terei qualquer problema em admitir que este é um assunto bastante pessoal. Tive a sorte de crescer de tal modo moldada pela cultura que hoje já não imagino o meu futuro sem ela. Literalmente.
A primeira vez que “pisei” um palco foi pelos pés da minha mãe, ainda ela estava grávida de mim; acho que conheci camarins e bastidores antes de conhecer a plateia. Depois, os meus pais começaram a recorrer à técnica do rebuçado para me manterem bem comportada nos espetáculos. Aprendi a ser espetadora, leitora, ouvinte. Tomei-lhe o gosto e decidi experimentar os palcos, primeiro a dança, a seguir o teatro. E depois vieram os filmes.
Sou agora estudante de cinema e estou consciente de que dificilmente viverei do cinema em Portugal. Até há pouco tempo, pensava que, talvez com sorte, talvez se quisesse muito, conseguisse. Mas bolas, eu quero muito. Só que estes não são tempos para jovens sortudos ou sonhadores. Se dos 0,1% do orçamento de Estado reservados à Cultura uma ínfima parte for efectivamente para o cinema, quanto dessa parcela chegará para os meus sonhos?
Mas não falemos de mim. Falemos de inúmeros colegas meus que, como eu, sonham viver do cinema, ou da música, do teatro, da dança, da fotografia, do design, mas todos os dias temem pelo seu futuro. Falemos de outros tantos cujos pais ou eles próprios, já antevendo piores dias, desistiram de qualquer ambição artística. Falemos também dos públicos jovens que cada vez têm um acesso mais restrito à cultura, que poupam durante meses para um bilhete e, quando finalmente se decidem a comprá-lo, se apercebem de que o passe aumentou outra vez e talvez esse dinheiro vá fazer muita falta.
Falemos até daqueles que nunca se aperceberam do quão fundamental pode ser a Cultura, que raramente vão ao teatro, que não vêem cinema português, não ouvem música portuguesa, literatura portuguesa só a de leitura obrigatória na escola, e museus só em visitas de estudo. Sim, sobretudo estes precisam da cultura.
Para estes últimos, talvez o movimento do 1% para a Cultura pareça despropositado: há a crise, o défice, o corte dos subsídios, o roubo nos salários, o desemprego galopante. Eu também paro às vezes “tipo estúpida” a pensar nisso: tanta miséria e eu quero é fazer filmes?
Depois, lembro-me do tal rebuçado que os meus pais me davam nos espectáculos e apercebo-me do quanto a realidade se tornou azeda e corrosiva, e de como a cultura consegue ser doce e tornar tudo mais suportável, ou, pelo contrário, pode (e deve) ser amarga, salgada, ácida, paladares para nos despertar e fazer melhorar. E percebo que, para que a cultura resista, é preciso unir as duas frentes, pois - recorrendo àquele chavão que não é para a minha idade -, assim como alguns jovens de hoje serão os artistas do futuro, outros serão os seus públicos.