Patrícia Marques, 24 anos, Barcelos
Patrícia casara-se em Outubro, mas era quase como se nada tivesse acontecido. “Levava a vida que tinha em solteira. Quando ele estava, eu ia para a parte de baixo da casa dos pais dele para estarmos juntos. Quando ele não estava, eu ia para casa dos meus pais, que era mais perto do meu trabalho.” Que sentido tinha aquilo?
Trabalhava numa fábrica de confecção, em Barcelos. O marido trabalhava nas obras, em França. “Vinha de três em três semanas, de mês a mês.” O salário, em França, “não era grande coisa”. A construção, em Portugal, não convidava. Para fazer vida de casal tinham de fazer malas. “Tem de ser agora de novos, enquanto não há filhos.”
Chegaram a 19 de Abril. Instalaram-se por cima do café Académico, um reduto dos portugueses de Luxemburgo-cidade. Moram num estúdio. E foi lá que ela se sentou, a contar esta história, no final do turno de empregada de mesa, enquanto ele a esperava, ao balcão, para gozar a folga de servente de pedreiro.
Em Barcelos, há muita gente parada, que antes andava nas obras em Espanha. “Portugal não dá, Espanha não dá. Têm de ir para outros sítios.” O irmão de Patrícia, dois anos mais velho, avançou para a Alemanha com a mulher. “Ele foi com trabalho, lá arranjou trabalho passadas três semanas. Está nas limpezas. Estava na confecção.”
Na casa paterna, resta uma filha. Patrícia diz-lhe: “Vir para aqui sozinha não vale a pena. Os preços são muito altos.” E ela sonha com a Alemanha. Os pais nada dirão. O pai também fez vida no estrangeiro. Trabalhou na Alemanha dez anos. Patrícia inspira-se nele. “A minha ideia era tentar fazer alguma coisa em Portugal antes de voltar. Uma casa, por aí. Quero ter uma vida estável. Lá não é fácil. Dois ordenados mínimos não dão para fazer nada.”