A Rússia de Putin tem mais três “prisioneiras políticas”

Uma "perseguição política" e um "atentado à liberdade de expressão". Em Portugal, a condenação de dois anos das Pussy Riot também não passou despercebida

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"Hooliganismo" e "incitamento ao ódio religioso". Apesar do apoio internacional, as três jovens da banda Pussy Riot - Nadejda Tolokonnikova, Ekaterina Samoutsevitch e Maria Alekhina - foram mesmo condenadas a dois anos de prisão, depois de, em Fevereiro, terem cantadado uma "oração punk" na Catedral do Cristo Salvador, em Moscovo. O P3 recolheu alguns depoimentos de portugueses que acompanharam o caso. 

 

Maze, dos Dealema

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“Estamos sem dúvida perante um marco histórico com esta acção de protesto das Pussy Riot e a condenação pesada de hoje que está a acender um rastilho, muito a custo das redes sociais, não poderá ser apagado e irá certamente queimar por todo o mundo desencadeando novas acções de protesto deste tipo contra o poder instituído, tal como o da igreja Cristã Ortodoxa e do governo de Putin na Rússia. É bom ver figuras como Kasparov a falar destemidamente e a intervir numa sociedade completamente controlada como a da Rússia. É importante acender o rastilho da revolução a um nível global.”

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Cristiana Pena, activista independente

“Esta condenação é uma perseguição política, foi um julgamento orquestrado porque o ataque foi contra Putin. Por isso, elas são prisioneiras políticas, como as dezenas que existem na Rússia e das quais não falamos. Em relação [à acusação] de “blasfémia” nem existe na lei russa. O ódio religioso também me parece demasiado. É demasiado triste e pesado.

Os Governos [de outros países] precisam de fazer alguma coisa em relação à Rússia. Enviamos uma carta para a Embaixada da Rússia em Portugal e para o Ministério dos Negócios Estrangeiros, publicadas no grupo de Facebook que também criamos, mas nunca obtivemos resposta. Também as feministas portuguesas e organizações e individualidades mostraram pouco interesse neste caso, apesar de terem subscrito a carta.

É bom lembrar que há democracias, mas que elas voltam atrás. Em Portugal houve um caso muito semelhante de que quase ninguém se recordou. No caso das três Marias [Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa], em 1972, o Governo só foi mais leve por causa da pressão e da reacção internacional. Fiz um mestrado sobre o livro [Novas Cartas Portuguesas] e creio que o caso delas só não teve um desfecho semelhante porque entretanto Portugal teve o 25 de Abril.”

Paulo Côrte-Real, presidente da ILGA

“É evidente que se trata de um atentado à liberdade de expressão. É um caso chocante e há mais casos chocantes a acontecer na Rússia. A lei que proibe a propaganda homossexual, aprovada há pouco tempo, é gravíssima a vários níveis e um atentado aos direitos humanos. O hooliganismo é feito pela própria Rússia, pelo poder repressivo do Estado que se sobrepõe aos direitos humanos.” 

 

Susana Mendes Silva, artista plástica e professora universitária

Não podíamos estar mais tristes e preocupadaos com esta decisão. Os fundamentos da condenação, com base no ódio religioso, servem apenas interesses políticos e denunciam uma classe política patriarcal, misógina e anti-democrática. O ódio pelos livres pensadores e artistas, que denunciam e confrontam politicamente, tem sido demonstrado pelo governo russo, e estes têm sido e continuam a ser castigados com violência e prisão. Esperamos que a situação possa mudar e continuaremos a pedir a libertação da Nadezhda, da Maria, e da Yekaterina.

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