Câmara de Viana diz que “não haverá tourada” a 19 de Agosto

“A realização desta corrida de touros, a acontecer, seria ilegal porque não há condições”, argumenta o presidente da autarquia, José Maria Costa

Nelson Garrido
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A câmara de Viana do Castelo deduziu hoje oposição à decisão do tribunal que autoriza a instalação de uma arena amovível para a realização de uma tourada na cidade, alegando violação do Plano Director Municipal (PDM).

Em conferência de imprensa, o presidente da autarquia, José Maria Costa, afirmou estar “seguro de que não haverá tourada” a 19 de Agosto, em Viana do Castelo, apesar da suspensão do indeferimento da autarquia à instalação da arena, pelo Tribunal Administrativo e Fiscal de Braga (TAFB).

“Estranhamente, o Tribunal, antes da decisão, não ouviu a Câmara Municipal, por entender ser de extrema urgência este assunto”, apontou, acrescentando: “A realização desta corrida de touros, a acontecer, seria ilegal porque não há condições”.

Segundo a oposição deduzida hoje mesmo pelo município, com regime de urgência, a instalação do recinto no local previsto, uma zona de emparcelamento agrícola junto à costa, configura um “desrespeito pelo ambiente e pelo ordenamento do território” e por isso foi indeferido a 2 de Agosto.

PDM: "Nós tentamos cumpri-lo"

Os terrenos em causa, na freguesia de Areosa, cidade de Viana do Castelo, estão classificados como Reserva Agrícola Nacional (RAN) e Reserva Ecológica Nacional (REN) e como tal não podem receber qualquer instalação do género, à luz do PDM, aprovado em 2008. “Em Portugal vemos autarcas a perderem mandatos porque violam o PDM, nós tentamos cumpri-lo e surgem destas decisões. No entanto, estou convicto que o Tribunal vai perceber estes argumentos porque ainda estamos num Estado de Direito”, disse José Maria Costa.

Além disso, acrescentou, para a realização desta tourada naquele local “teriam de ser ouvidas previamente” entidades como a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte, a Administração da Região Hidrográfica do Norte e o Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade, o que não aconteceu.

Para além das questões legais, José Maria Costa mantém a declaração, aprovada em Fevereiro de 2009 pelo executivo municipal, apenas com os votos favoráveis do PS, assumindo a cidade “antitouradas”, em defesa dos direitos dos animais. “Estamos perante manobras de diversão de algumas pessoas que ainda não perceberam que estamos no século 21 e que a sociedade, felizmente, libertou-se de algumas algemas de tradições do passado”, sublinhou.

A decisão do TAFB foi tomada esta sexta-feira, após recurso, através de uma providência cautelar, apresentado pela organização desta tourada, a cargo da “Prótoiro” - Federação Portuguesa das Atividades Taurinas. Na aceitação da suspensão da eficácia do indeferimento municipal, o TAFB levou em conta o “eventual obstáculo à Cultura, pois a tauromaquia goste-se ou não é uma manifestação cultural, como o teatro, a música e o circo”, lê-se no despacho a que agência Lusa teve hoje acesso.

Cidadãos apoiam autarquia

Além disso, na base da rápida decisão do tribunal, sobre a aceitação da providência cautelar, esteve o facto de a mesma “tutelar direitos, liberdades e garantias” e a necessidade da organização começar a instalar a arena amovível, com capacidade para 3.300 pessoas, seis dias antes do evento.

Entretanto, a autarquia, que revelou ter recebido nas últimas horas “centenas de mensagens de apoio”, foi ainda confrontada, hoje, com a visita da direcção da Plataforma para a Abolição das Corridades de Touros. “Quero acreditar que o Tribunal vai recuar e que não haverá tourada em Viana do Castelo.

Aliás, não ponho sequer a possibilidade de ela vir a acontecer”, apontou Sérgio Caetano, dirigente daquela plataforma, que congrega meia centena de associações “antitouradas” Acrescenta que a realização de touradas em Portugal “assenta numa exceção à Lei” que “não permite que os animais sejam maltratados”, pelo que não admite que o mesmo aconteça com o ambiente.

“Não acredito que para a realização desta tourada, naquele local, se violem as normas ambientais e de ordenamento do território”, disse ainda, demonstrando “total solidariedade” com o município de Viana do Castelo.