Doze, treze, catorze, quinze minutos de fama. Manuel Leitão conseguiu, com um grafito, colocar-se nas bocas do mundo (portuense, pelo menos) – os manuais sobre Andy Warhol já podem ir para a prateleira. Mas, neste caso, os 15 minutos de fama foram originados pelas piores razões, pois nem sequer lhe vale a célebre frase de Oscar Wilde: “só há uma coisa pior do que ser falado, que é não ser falado”. Explique-se: Manuel Leitão é director da publicação “Porto Menu” e fez publicar na primeira página do mais recente número a inscrição “Rio és um FDP”. Rui Rio sentiu-se (naturalmente) insultado e processou (obviamente) Manuel Leitão. Em tribunal, o arguido – recusando liminarmente a interpretação que, certamente, todos os leitores tiveram ao deparar com tão singular saudação ao autarca na capa da revista – descodificou as três singulares letrinhas: “Fanático dos Popós”.
Mesmo tendo em conta a miríade de interpretações a que a Língua Portuguesa se presta nas mais variadas situações, esta argumentação é, no mínimo, um insulto à inteligência de todos e, muito mais grave do que isso, à Justiça. Hoje mesmo, Rui Rio esteve em tribunal, com o único objectivo de esclarecer uma singela dúvida: se era, ou não, “fanático dos popós”. Enfim...
Por mais que se discorde das decisões e tomadas de posições políticas de Rui Rio – e eu discordo de muitas delas, muitas vezes –, a honorabilidade das pessoas não pode nunca estar em causa: há limites, nomeadamente os da urbanidade e da educação. Goste-se ou não da forma como o autarca, eleito democraticamente para três mandatos consecutivos, dirige os destinos da cidade do Porto, não há subterfúgios linguísticos que possam valer a este acto de muito mau gosto e de verdadeira má-educação. Para mim, não restam dúvidas: Rui Rio foi insultado e tem direito a ver reparado o seu bom nome publicamente e a um pedido formal de desculpas.
Tão grave atitude como a daquele que prevarica é a daquele que abusa da democracia e do Estado de Direito de forma tão despudorada. O sistema judicial português tem o dever de atender a todas as situações que possam configurar uma violação aos direitos de terceiros. Os processos judiciais devem percorrer todos os trâmites necessários ao apuramento da verdade e esclarecimento dos factos. Utilizar como estratégia de defesa judicial uma argumentação que apenas é própria de uma criança de 3 anos é desrespeitar a Justiça. Convocar um cidadão (neste caso, com responsabilidades políticas, mas um cidadão) para ir a tribunal confirmar ou desmentir se é “Fanático dos Popós” é uma atitude que deve envergonhar mais o tribunal que o visado.
É evidente que Manuel Leitão ofendeu Rui Rio. O próprio tribunal o considerou, em despacho proferido hoje à tarde. Tendo-o feito conscientemente, deveria também estar preparado para sofrer as consequências da sua atitude. Mas o destemor de Manuel Leitão parece não ir tão longe; por isso, atirou a pedra e, agora, tentou esconder a mão. Utilizando o estilo linguístico do próprio, podemos dizer que foi um menino maroto.
* Por que prevaricaste?