Lígia Santos, a engenheira civil que se tornou masterchef

O programa de televisão “Masterchef” mudou a vida de Lígia Santos. A engenheira criou o Club masterCOOK e hoje dedica-se a ensinar as pessoas a cozinhar coisas diferentes

Nelson Garrido
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Salsichas com ovos e batatas fritas já foi um dos pratos favoritos de Lígia Santos, a primeira “masterchef” portuguesa. Mas isso era quando, em criança, vivia na Póvoa de Varzim, de onde é natural. Quando ingressou na Universidade do Minho para estudar Engenharia Civil, aos 17 anos, Lígia adorava feijoada. Agora, com 33, casada e com dois filhos, “anda numa de comer flores para experimentar” e estudar formas de as incorporar em receitas.

“Faço muita coisa e gosto muito de comer. Não sou nada esquisita”, garante, enquanto vai explicando que, apesar de sempre ter gostado de cozinhar, “nunca tinha visto a cozinha de forma profissional”. Isto até o marido, Vasco Guimarães, também engenheiro civil, e arquitecto, a ter inscrito na primeira edição do programa televisivo MasterChef, no Verão de 2011. O formato, de origem australiana, procura “chefs” nos cozinheiros amadores de todos os dias.

Lígia Santos foi vencendo etapas, a primeira das quais juntamente com sete mil inscritos, e chegou à fase final. “A partir de certa altura, comecei a ganhar mais confiança”, confessa. Foram quase dois meses de gravações, “super intensos”, durante os quais não podia contar a ninguém dos avanços e da vitória que conseguiu (25 mil euros e a publicação de um livro de receitas).

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Criação do Club masterCOOK

Até à transmissão televisiva do episódo final, Lígia continuou a “trabalhar normalmente” em engenharia civil, a sua área nos últimos dez anos, que apenas abandonou para abrir o Club masterCOOK, no antigo Clube de Caça de Famalicão, cidade onde reside, em Dezembro de 2011.

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“A engenharia civil tinha os dias contados, não me preenchia a 100%”, explica. Lígia trocou “o certo pelo incerto” ao desistir de um trabalho fixo para se dedicar à criação de um espaço onde os clientes são convidados a usar avental e a “sujar as mãos” na confecção das receitas que depois provam no final de cada “workshop”. É peremptória: não tem “saudades nenhumas da engenharia”.

São precisamente os workshops que enchem, agora, os dias desta chef que se dedica a criar receitas próprias. A cozinha do Club masterCOOK tem vários postos de trabalho individuais onde Lígia ensina a fazer pastas frescas, tartes e quiches ou risotos. O workshop de iniciação à culinária é muito popular, assim como o de cozinhar com ervas aromáticas (Lígia é uma apaixonada pela agricultura biológica e na calha está já a criação de uma pequena horta biológica no Club).

Autodidacta, Lígia investiga em livros e na Internet, visita cozinhas e aprecia ementas e empratamentos de restaurantes. Além dos “workshops”, o Club masterCOOK promove, uma vez por mês, um jantar vínico. Lígia aposta, ainda, no modelo de “show cooking”: ocupa a cozinha lá de casa e, sem se dar por isso, confecciona uma refeição para uma ocasião especial.

Os grupos de amigos são os grandes desafios de Lígia, que procura sempre personalizar a ementa ao gosto dos clientes. Prova disso mesmo é o “workshop” de francesinhas, criado depois de ter recebido muitos pedidos, e que sempre esgota rapidamente. A faixa etária que mais frequenta o Club situa-se entre “os 20 e poucos e os 40”; o que não quer dizer que não haja grupos de “senhoras de 50 e tal anos” que sabem cozinhar, “mas querem aprender coisas diferentes”.

Pergunta final: abrir um restaurante não está nos planos da “masterchef"? “Posso mudar de ideias mas, para já, não é coisa que me apeteça fazer.” Talvez no futuro, quando o turismo rural que Lígia e Vasco querem abrir em Arcos de Valdevez, no Minho, se concretize, um pequeno restaurante para os hóspedes faça sentido. “Tinha de ser uma coisa completamente diferente, o que acaba por ser um bocadinho isto [o Club masterCOOK], com moldes nada convencionais, em que as pessoas acabam por jantar depois de fazermos os pratos.”

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