Demolição de esculturas gera polémica em Viana

A polémica em torno do trabalho de sete artistas plásticos portugueses começou assim que as peças, construídas com tijolos, alguns parcialmente destruídos, ganharam forma em locais estratégicos da cidade

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A Associação de Intervenção Social, Cultural e Artística (AISCA) de Viana do Castelo acusou a câmara de ter destruído no final da passada semana, 15 dias antes do previsto, seis esculturas urbanas instaladas na cidade, no âmbito de um evento que a própria autarquia encomendou.

O executivo liderado por José Maria Costa não reagiu ao comunicado da AISCA. Mas o presidente da câmara já tinha sido questionado pelos jornalistas, na segunda-feira, sobre a destruição das peças e garantiu que o projecto Lapidaris, no âmbito do qual foram as esculturas foram instaladas, “decorreu de acordo com o que estava estabelecido”.

A polémica em torno do trabalho de sete artistas plásticos portugueses (Mais Menos, Alexandre A. R. Costa, Filipe Garcia e Marta Bernardes, Hugo Soares, Manuel Santos Maia e Vasco Costa) começou assim que as peças, construídas com tijolos, alguns parcialmente destruídos, ganharam forma em locais estratégicos da cidade. Integraram o programa do festival Urbiana, que decorreu de 22 a 24 de Junho, mas deveriam permanecer expostas até 22 de Julho.

O Lapidaris revelou-se o projecto mais controverso do Urbiana, um festival dedicado às novas tendências urbanas, que a autarquia encomendou e pagou (37 mil euros) à AISCA. Não faltaram vozes nas ruas a comentar que as obras de arte pareciam casas de banho públicas ou até actos vandalismo em pleno centro histórico. E esse debate alargou-se rapidamente nas redes sociais.

A ruralidade de província

As seis peças foram retiradas pela câmara antes do prazo previsto, facto que não passou despercebido à oposição municipal, que na reunião do executivo de segunda-feira criticou a aposta no evento, por motivos artísticos e financeiros, referindo os “incómodos” sentidos pela população e turistas ao serem confrontados com aquelas obras. A AISCA vem agora demarcar-se e criticar a “destruição” precoce das peças, considerando, em comunicado, “incompreensível esta verdadeira invasão ao intelecto dos artistas”.

“Ao fim de quinze dias, se algo era claro à AISCA, à equipa produtora do Urbiana e ao coordenador do projecto, era que o Lapidaris estava a cumprir o objectivo: desmistificar a ruralidade de província.” “Como pretendido, trouxe à tona as diversas correntes urbanas identificadoras da cidade, as contra e as favor, como as a favor de umas peças e contra outras”, lê-se no comunicado.

Para a AISCA, o Lapidaris “estava também a cumprir a função última da arte, que é a de interpelar o espectador”. Segundo a associação, o projecto reuniu artistas plásticos “de nome e valor equiparável, dentro de uma nova geração de criadores portugueses” e até aconteceu “a coincidência de um ser premiado num concurso internacional, justamente enquanto preparava a sua intervenção no Urbiana”.

Na segunda-feira, além de garantir que o programa do festival tinha sido integralmente cumprido, o presidente da câmara defendeu esta aposta, afirmando que tinha dado “a oportunidade aos jovens de manifestar no seu tempo, as expressões de arte do seu tempo, com os materiais do seu tempo e a linguagem do seu tempo”, criticando a “visão castradora” da oposição. “O tempo da censura da arte foi há 40 anos”, proclamou José Maria Costa, considerando “inadmissíveis” as críticas que visam “desqualificar” expressões artísticas.

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