Vários estudos indicam que cerca de 90 por cento das mulheres em idade reprodutora sofrem da Síndrome Pré-Menstrual, vulgarmente conhecido por TPM (Tensão Pré-Menstrual). Destas, calcula-se que entre 2 a 10 por cento sofra de uma forma agravada deste problema: a Perturbação Disfórica Pré-Menstrual.
De acordo com um artigo da autoria de Paula K. Braverman publicado em 2007 no Journal of Pediatric and Adolescent Gynecology, a Síndrome Pré-Menstrual é um conjunto de sintomas previsíveis a nível físico, cognitivo, afectivo e comportamental que ocorre ciclicamente durante a fase lútea (cerca de dez dias antes da menstruação) do ciclo menstrual e que terminam no início da menstruação ou alguns dias depois.
Segundo a tese de mestrado de Débora Aguiar Câmara, denominada “Síndrome Pré-Menstrual: Estudo da prevalência em alunas da Universidade da Beira Interior”, publicada em 2011, não são inteiramente conhecidas as causas e origens desta perturbação psiconeuroendócrina, que varia de mulher para mulher.
De acordo com a autora, que cita vários estudos, teoriza-se sobre uma disfunção do eixo do hipotálamo-hipófise-ovário, uma resposta anormal à oscilação dos níveis dos esteróides sexuais, alterações dos neurotransmissores (como a serotonina e o GABA- ácido gama-aminobutírico, responsável por regular a excitação neuronal) e a influência de factores genéticos no mecanismo fisiológico.
"O estrogénio e a progesterona podem estar na origem dos desequilíbrios responsáveis pela Síndrome Pré-Menstrual. As mulheres nesta fase do ciclo menstrual estão "desafinadas", naquele que é um processo múltiplo e subjectivo – um complexo de doenças que depende da constituição de cada uma", explicou ao Ciência 2.0, José Martinez de Oliveira, presidente da Sociedade Portuguesa de Ginecologia.
Jogo biológico
“É uma área bastante complexa e que tem uma componente cerebral relevante. É do cérebro que vêm algumas hormonas que interferem directamente neste processo, que é um jogo hormonal”, salienta, por sua vez, Henrique de Almeida, docente da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP).
A intervenção destas hormonas pode estar na origem dos mais diversos sintomas [são conhecidos cerca de 200] como manifestações uterinas, mamárias, mudanças de humor, ansiedade, sensação de plenitude abdominal, distensão nos membros inferiores, sensação de má circulação periférica, entre outros.
De acordo com o trabalho de Braverman, alguns autores acreditam que as endorfinas, associadas ao bem-estar, estarão também envolvidas e estes neurotransmissores centrais (endorfinas, serotonina e dopamina), em conjunto com as hormonas, poderão tornar as mulheres mais sensíveis às flutuações hormonais próprias do ciclo menstrual.
A acção destes neurotransmissores e hormonas tem sido, segundo um estudo realizado por Gislene C. Valadares e outros autores publicado em 2006, alvo de várias investigações que tentam justificar os quadros mais depressivos da Síndrome Pré-Menstrual, associados à serotonina e à dopamina, que podem estar por detrás das alterações de humor, falta de atenção, desânimo, descontrolo do peso corporal, entre outros. Calcula-se que uma desregulação dos níveis de serotonina poderá originar vários sintomas da TPM.
Os efeitos da interferência de hormonas e neurotransmissores são vários. Em relação às hormonas, no caso da progesterona, por exemplo, sabe-se que é produzida em grande quantidade durante esta fase. Esta é necessária para preparar o útero para uma possível gravidez. “Esta hormona pode interferir com a movimentação gástrica, conduzindo a uma sensação de náusea, um dos sintomas da Síndrome Pré-menstrual”, salienta Henrique de Almeida.
Como se sabe que existe SPM?
Para o diagnóstico de SPM, ainda de acordo com o documento de Braverman, os sintomas têm de ocorrer exclusivamente na fase lútea e desaparecer dentro de poucos dias após o início da menstruação, têm de ser documentados durante vários ciclos menstruais seguidos e não ser susceptíveis de serem explicados por outras condições físicas e psicológicas, tendo também que ser suficientemente fortes para interferir nas actividades normais do dia-a-dia.
Quanto aos factores de risco da Síndrome Pré-Menstrual, alguns estudos, segundo a mesma autora, apontam para a hereditariedade como um dos motivos para aumentar a probabilidade de sofrer estes sintomas. Outros factores, indicados na tese de mestrado de Débora Câmara, relacionam-se com o "stress," tabagismo, consumo excessivo de café, álcool e chocolate, entre outros.
"A avaliação e estudos da Síndrome Pré-Menstrual têm de ser feitos em função da avaliação do perfil de cada mulher", acrescenta o ginecologista, referindo que não existe nenhum tipo de tratamento universalmente aceite, visto que este terá de se adequar ao tipo de sintomas. De acordo com o estudo de Débora Câmara, a cultura e etnicidade podem interferir na forma como são perpepcionados os sintomas de TPM.
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