Em 1994, uma menina portuguesa cantava em italiano no 37.ª Zecchino D'Oro, em Itália. Agora, passados 18 anos, Marina Pacheco perdeu os óculos, tornou-se mulher, é soprano e ganhou o Prémio Vladislava Starkova, menção honrosa do International Pustina’s Vocal Competition.
O concurso teve como júri Peter Dvorský, director da Ópera de Bratislava, o maestro e compositor Rudolf Geri e o barítono Jakub Pustina, que dá o nome ao concurso. A competição encerrou-se com um dueto entre este último e a própria Marina Pacheco, o que para a artista de 26 anos “foi um orgulho e uma honra”.
Marina recorda o momento da interpretação de "A Viúva Alegre" de F. Léhar: “A sala estava absolutamente lotada e os duetos que interpretamos juntos criam sempre magia entre o público, por ser bastante conhecido e bonito”.
Para a soprano, este prémio, que foi mais uma conquista, é também “mais um passo em frente para alcançar os objectivos” que definiu para a sua carreira e sobe a fasquia daquilo a que a jovem se propõe realizar. “Sabe sempre muito bem receber um prémio porque é uma forma de reconhecimento do nosso trabalho e também do mérito, mas ainda estou longe da sensação de dever cumprido”, afirmou a cantora lírica ao P3.
Dos coros infantis ao canto lírico
Os coros infantis e a primeira aula de canto, aos treze anos, foram o início de um caminho que, longe de estar todo percorrido, trouxeram a jovem até um patamar internacional. Um professor apresentou-lhe a beleza do canto lírico e desafiou-a a tentar este género: “Investi nesta formação e, aos dezoito anos, senti que devia prosseguir com os estudos ao nível do ensino superior”.
Depois de estudar com Pedro Telles (Maiorff), José de Oliveira Lopes (ESMAE), António Salgado e Sofia Serra (UCP), recebeu uma bolsa do Santander para a realização do mestrado. Em 2010/2011, integrou o Vlamsee Operastudio (Gent, Bélgica), enquanto bolseira da Robus Foundation e do Programa Leonardo da Vinci.
Os concertos de Marina Pacheco alternam-se entre Portugal e o estrangeiro. Considera que “viver entre Portugal e o resto do mundo desperta sensações muito ambíguas”, mas garante que “é maravilhoso interagir com diferentes culturas, distintas formas de sentir e interpretar a música e diferentes concepções culturais". As saudades dos amigos e da família são compensadas pelas pessoas que vai conhecendo.
Em relação à cultura musical portuguesa, a soprano acredita que “precisa claramente de mais apoio, de mais oferta para os cantores nacionais e de oportunidades de transição entre a conclusão do ensino superior e a vida profissional plena” e acrescenta que “a exploração de novos mundos deve ser sempre uma etapa, quanto mais não seja para enriquecimento musical e pessoal e para abrir horizontes”.
O texto constitui uma parte fundamental do canto lírico e é imperativo dominá-lo de forma fluente nas várias línguas em que é interpretado. E qual é a diferença entre cantar em português e em outras línguas? A resposta é clara: “Cantar em português tem sempre um sabor especial porque inevitavelmente, as palavras são sentidas com maior intensidade, mas também nas outras línguas, tenho a mesma preocupação e os mesmos cuidados”. O seu primeiro disco, "João Arroyo – Obra para canto e piano", foi gravado com a pianista Joana David e representa a sua dedicação ao património nacional, cujo reportório faz questão de valorizar.
Beverly Sills, Joan Sutherland, Anna Netrebko, Diana Damrau ou Natalie Dessay são algumas das referências desta jovem lisboeta que adora a música, o canto e os artistas completos, que revê nos nomes mencionados.