Carros autónomos, novidade? Nem por isso

Só para termos uma perspectiva do que o futuro nos reserva, pensa-se que estes carros serão comuns no ano de 2020. Prontos para a viagem?

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GOOGLE

A ideia de ter um veículo conduzido automática e autonomamente remonta à década de 1930, tendo sido apresentada ao público na Feira Mundial de 1939, ainda que apenas conceptualmente, no âmbito do projecto “Futurama” (de Norman Bel Geddes), que propunha uma automatização total de vias rodoviárias nos EUA, com a ideia de a implementar no final da década de 1950 ou início da de 1960, minimizando assim o problema de congestionamento de trânsito. Esse futuro nunca veio a acontecer mas, passados mais de 80 anos, parece que a visão profética está definitivamente calendarizada e agendada.

O tema ganhou nova visibilidade recentemente porque a Google já apresentou um mecanismo autónomo de condução, com carta passada pelo estado do Nevada para testes de condução, mas desde há vários anos que há outros players nesse mercado com avanços muito significativos na arte/ciência de conduzir um automóvel com pouco ou nenhum recurso ao ser humano. 

Existem duas ideias-base para a condução autónoma: 

1)      Desenhar algo como um conjunto de linhas nos possíveis percursos que sirvam como um guia visual (um “carril gráfico”) para o dispositivo que conduz o veículo (situação que já é algo comum em grandes armazéns, onde pequenos veículos fazem transporte e arrumação de produtos ou robots motorizados fazem a organização do espaço durante a noite);

2)      Criar um conjunto de mecanismos de detecção de objectos (estáticos e em movimento) em tempo real e que permitam ao carro transitar num ambiente não preparado especialmente para o efeito, ou seja, na realidade do dia-a-dia. Esta segunda ideia é a que tem mais aplicabilidade nos nossos dias, dado que não implica adaptações das vias públicas nem ao nível das estradas em si, nem ao nível da sinalização. 

Assim, te(re)mos um carro convencional com “algum” equipamento adicional:

—  Várias câmaras de filmar que cobrem os 360 graus à volta do carro e estudam não só a estrada, como os obstáculos (carros, pessoas, animais e outros objectos), sinalização de trânsito e semáforos;

  Radares à frente e atrás do carro que monitorizam em permanência objectos que, mesmo estando a distâncias maiores do veículo, possam circular a velocidades altas e/ou estarem a descrever trajectórias de embate (nota: o objectivo do carro não é só conduzir bem, é também evitar acidentes provocados por outros veículos);

Um sensor de posição (pode ser GPS ou outra norma) que indica a posição do veículo no mapa;

Um LIDAR (sensor de luminosidade que mede distâncias a objectos recorrendo à luz ou a laser), normalmente rotativo, que permite ao carro saber da sua posição face ao meio que o circunda na proximidade;

—  Informação cartográfica que permite ao carro desenhar rotas para se deslocar de um ponto até outro (e não apenas circular sem destino);

  Software de Inteligência Artificial para gerir todos estes "inputs" e decidir, em tempo real, quais as decisões a tomar;

  Autómatos que operam o volante, acelerador, travão e manípulo da caixa de velocidades automática. 

Recapitulando um pouco, toda esta automatização começa com o inventor da máquina a vapor, James Watt, que inventou e implementou um mecanismo de limitação de velocidade para a “sua” locomotiva, isto em 1788 (curiosamente, só em 1910 é que esta invenção vem a ser usada em automóveis). 

É apenas em 1945 que o segundo passo decisivo foi dado por um Engenheiro Mecânico que, farto da condução em estilo “acelera-trava-acelera-trava” do seu advogado e frequente condutor, inventa o sistema de "cruise control" moderno. 

Um pormenor, este inventor era Ralph Teetor, cego. Mas a sua invenção era fiável e em 1958, a Chrysler começou a comercializá-la em alguns modelos dos seu carros. 

Todos estes eventos são parte de um perfácio para a história que começa verdadeiramente a ser contada em 1977, quando a empresa japonesa Tsukuba Mechanical Engineering Lab cria o primeiro veículo autónomo e inteligente, capaz de seguir marcações na estrada e viajar a velocidades de 30 Km quilómetros por hora, ainda que não pudesse levar passageiros. 

Já no início da dácada de 1980, o professor universitário alemão Ernst Dickmanns torna públicos os trabalhos da sua equipa na University Bundeewehr Munich, os quais já envolviam testes com automóveis a circular a velocidades superiores a 90 quilómetros por hora em ruas vazias. 

Até 1995, a evolução do trabalho de investigação aí feito permite-lhe preparar um Mercedes que consegue, em estradas públicas, com trânsito e sem recurso a marcações específicas na estrada, viajar desde Munique até Copenhaga fazendo também o regresso, percorrendo assim mais de 1600 Km e atingindo velocidades superiores a 175 quilómetros por hora nas auto-estradas alemãs, com menos de 5% da distância a ter assistência do condutor humano.

É este patamar da evolução que estamos hoje a ultrapassar.

 

A melhor detecção de objectos, texturas e desenhos/figuras no raio de visão permite que algumas das funcionalidades do carro autónomo estejam já disponíveis em veículos em comercialização no mercado (como o estacionamento automático entre dois carros, o "cruise control" adaptativo que se ajusta à velocidade do carro imediatamente à frente ou o travão automático que não permite o embate em situações de trânsito a baixa velocidade), como, por exemplo, na Volvo, Mercedes, BMW ou Audi.

 

Em 2010, a Mitsubishi foi mais longe, permitindo "test drives" não-presenciais a potenciais clientes, com a sua inovadora iniciativa Live Drive, que permitia conduzir um carro a partir de um computador remoto.

 

Mas já desde 2007 que existem carros autónomos com visão de 360 graus e que apenas precisam que lhes seja transmitida a ordem de arranque e destino da viagem e também desde 2011 que existem testes contínuos em grandes cidades, em hora-de-ponta.

 

O carro agora apresentado pela Google já anda na estrada há quase dois anos (e não é apenas um único carro de testes, mas sim uma equipa de sete!) e já percorreu quase 250.000 km em ruas públicas, com outros carros e peões no campo de visão, necessitando cada vez menos da intervenção humana.

 

O ponto alto terá sido o passeio dado por Steve Mahan, sentado no lugar do condutor do Google Self-Driving Car, apesar de ser cego. Todos pudemos ver e quase tocar o futuro que se aproxima e que se propõe reduzir drasticamente o número de acidentes e vítimas das estradas de todo o mundo.

 

Só para termos uma perspectiva do que o futuro nos reserva, pensa-se que estes carros serão comuns no ano de 2020. Prontos para a viagem?

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