O nº19 do Largo do Intendente, em Lisboa, vai acolher um laboratório artístico e hotel. O Largo Residências pretende ser auto-sustentável e ajudar na regeneração de uma zona de “má fama”, associada à prostituição, sempre em interacção com a comunidade.
O edifício terá “apartamentos e quartos para alojar pessoas que trabalhem criativamente sobre este território [Intendente], daí as residências artísticas”, contou à Lusa a directora do Largo Residências Marta Silva.
Foi numa pesquisa pela zona do Intendente que Marta Silva, que faz parte da associação cultural SOU -- Movimento e Arte, se deparou com o edifício do nº19, propriedade dos herdeiros da Viúva Lamego (fábrica de azulejos).
A tipologia do edifício, referiu, adequa-se a um “modelo de economia social” pensado e decidido “pela fragilidade e precariedade do trabalho artístico”. Assim, “a outra parte dos quartos estará ao serviço de um alojamento local [em regime de hostel, quartos com casa de banho partilhada, e hotel, quartos com casa de banho privativa] “, referiu Marta, acrescentando que essa será a “fonte de receita para sustentar a parte de criação artística”.
Testar residências artísticas
Uma candidatura ao programa BIP/ZIP -- Bairros/Zonas de Intervenção Prioritária da Câmara Municipal de Lisboa deu o pontapé de saída e, em Julho do ano passado, o edifício começou a ser ocupado.
Como os senhorios já tinham iniciado as obras de recuperação do prédio, o 3.º andar foi o primeiro a ser preenchido.
É neste piso que está toda a parte de produção do Largo Residências e o escritório, que tem algumas paredes temporariamente decoradas com as plantas-projecto dos outros andares.
“À medida que fomos tendo um ou outro espaço pronto fomos fazendo ‘residências [artísticas] teste’ em parceria, com, por exemplo, o festival Todos ou a plataforma Revólver”, contou.
Os testes permitiram pensar nos formatos de futuras residências: “quando, como, com quem, que duração em que condições, sobre quê, etc.”, referiu Marta Silva.
Pouco tempo antes tinha encerrado, no 1.º andar do nº19, a “pensão mais famosa” do Intendente. Por isso, no início, as “trabalhadoras da praça” chegaram a pensar que Marta Silva e os restantes membros do Largo estavam ali para reabrir o estabelecimento, mas num registo “mais fino”.Com essa abordagem, aproveitaram para dar a conhecer o projecto à população da praça, algo que faz parte da génese do Largo Residências.
“Pessoas de toda a parte do mundo, do país, de Lisboa, vão provavelmente começar a habitar este local por aquilo que aqui vai acontecer, mas queremos que o trabalho abrace muito quem já cá está, porque é um bairro habitado e com uma variedade cultural e simbólica e social enorme”, afirmou Marta Silva. Por isso mesmo, irão “privilegiar o sector criativo que se relacione com o tecido comunitário”.
Para que isso aconteça, uma das ideias é trazer os artistas e os projectos para a rua. O piso térreo irá albergar “uma cafetaria de acesso directo à praça, com uma esplanada”, que será “uma espécie de lugar de cruzamento entre artistas em residência e turistas em permanência temporária e a população que vive, habita e passa pelo Intendente”.