Há uma canção que está a ser escrita. A guitarra primeiro, depois a voz. Cresce, esmorece, falta ali qualquer coisa. Será que alguma vez estará concluída? Chama-se "Corações Partidos" e, parecendo que não, isso diz muito sobre "O Que Há de Novo no Amor", filme que se estreia, esta quinta-feira, nos cinemas, depois da passagem por vários festivais nacionais e internacionais, e que tem a particularidade de ter sido realizado por seis jovens cineastas.
"Nota-se que é uma peça tocada a várias mãos, a muitas mãos, mas depois fica uma sinfonia", diz Mónica Santana Baptista, que partilha a realização com Hugo Alves, Hugo Martins, Patrícia Raposo, Rui Santos e Tiago Nunes. Não é um processo fácil, este de fazer filmes a doze mãos, mas foi, continua Mónica, "muito bonito" e totalmente "irrepetível": "é um milagre existir este filme".
Com produção da Rosa Filmes, "O Que Há de Novo no Amor?" conta a história de seis amigos que têm algo em comum: a música. Vivem o amor de diferentes maneiras — Rita sente-se perdida, Eduardo já não pode voltar atrás, João não consegue escolher e Inês deixa-se andar, Marco sabe que quer estar com aquele rapaz, Samuel não deixa morrer um amor eterno — e à noite encontram-se para ensaiar, mas será que conseguem chegar ao fim de alguma música? Será que vão conseguir ter aquele concerto?
Mónica responde: "É super complexo porque estão a fazer uma coisa que lhes dá prazer, mas não deixam de pensar em quem encontraram ou no que ouviram. É um mundo ao mesmo tempo de fuga, mas também de onde aquelas cabeças estão a fugir. E, se calhar, é por isso que os ensaios não funcionam."
Naquela garagem e em palco são Os Ursos Pardos e mimetizam um inédito dos peixe : avião. Houve, desde sempre, uma preocupação com a escolha da banda sonora, confessam os realizadores. À banda de Braga juntam-se nomes como Samuel Úria, Os Golpes e Os Velhos. "Estão a forçar um caminho novo na música, tal como nós estamos a forçar um caminho novo no cinema. Com energia e com espírito de juventude", explica Rui Santos. "E é o que nós próprios gostamos de ouvir", acrescenta Hugo Martins.
"O amor não é uma coisa adolescente"
"Rasgar o cinema português" é um dos propósitos destes jovens realizadores que se conheceram na Escola Superior de Teatro e Cinema e que voltaram a encontrar-se na Rosa Filmes, onde trabalhavam em diferentes áreas. O passo "natural" seria começarem a fazer curtas-metragens, mas surgiu esta hipótese "de fazerem um projecto com muito mais força, diferente, que permitiria outro tipo de visibilidade", conta Rui.
Cada um foi responsável por um segmento do filme e pela história de uma ou duas personagens. Partilhavam a mesma equipa técnica, cada um teve liberdade de escrever o seu argumento (organizado por Octávio Rosado) e filmar como queria, mas de maneira a interligar as histórias num filme e não em seis. "Nota-se que são realizadores diferentes, uma espécie de cunho. São seis formas de expressão, seis maneiras diferentes de sentir o cinema."
O amor surgiu como tema naturalmente. "Não chegamos à Rosa Filmes a dizer: 'Vamos falar sobre o amor.' O que aconteceu foi que tudo o que dizíamos tinha a ver com o amor", explica Mónica. "Há uma coisa que é importante referir", começa Rui. "Somos todos novos e faz parte das pessoas novas estarem apaixonadas, viverem mais intensamente as relações porque queremos experimentar e viver a vida com mais força."
É biográfico? "Tem ecos", confessa Mónica. Mas atenção: a juventude dos realizadores, dos actores (alguns saíram de séries juvenis bem conhecidas do grande público, sendo esta a sua primeira experiência cinematográfica), da música e até do amor não é sinónimo de superficialidade, nem se destina apenas à faixa etária dos 20 anos. "À superfície podem ser pessoas novas e ser um mundo mais jovem, mas, no fundo, o que está lá dentro é universal e dá para toda a gente. A profundidade do filme permite isso", salienta Rui. "O amor não é uma coisa adolescente", atira Mónica. Está dito.