Isabel pode não entender, pode não querer, mas é quase impossível não realçar o facto de ser filha do histórico líder e membro do CDS, Adriano Moreira, e, ao mesmo tempo, deputada independente no grupo parlamentar do PS. Para além disso, ainda defende causas como a adopção por casais homossexuais ou a eutanásia.
Ter vindo de um meio familiar em que seria expectável a adopção de um conservadorismo ideológico – o pai foi ministro no Estado Novo e seguidor da democracia cristã, por exemplo – é por demais surpreendente para se ignorar. Na opinião de Isabel Moreira, não.
“Acho que é um sinal de pouco amadurecimento da democracia colocarem-me essa questão tantas vezes, [tendo em conta] que é uma coisa que se repete na vida política portuguesa, como, por exemplo, com os irmãos Portas”, exprime.
Pois, os irmãos Portas conhecemos nós. Mas quando se está a falar de uma jovem de 35 anos, jurista e mestre em Direito Constitucional, que se bateu afincadamente pela aprovação do casamento gay e que, por isso, foi afastada da faculdade em que leccionava (isto só para revelar um pouco da sua personalidade), é outra coisa.
Mas como é que surgiu uma cidadã destas? “É naturalíssimo. Faz parte do crescimento livre de uma pessoa, a quem não é colocado qualquer tipo de constrangimento às suas leituras e opções. Tive a sorte de ter uns pais assim”, explica ao P3.
Bem, se é assim…do que é que se fala lá em casa? “As nossas conversas são conversas de pai e filha que gostam muito um do outro e que se apoiam mutuamente em tudo, sejam quais forem as opções de cada um, e, obviamente, interessa-nos o nosso dia-a-dia”.
Os jovens querem-se batalhadores
Há mais de seis meses como deputada independente no grupo parlamentar do PS, Isabel Moreira diz-se “muito confortável” naquele que é o primeiro cargo que tem na política, isto apesar de, desde criança, ter estado envolvida no meio. “Cresci, de algum modo, dentro da política, no sentido em que a política estava na minha casa. Acompanhava, como espectadora ultra-privilegiada, aquilo que era a vida partidária e parlamentar”.
Isto quer dizer que nada daquilo que encontrou, agora, “in loco”, a surpreendeu. Nem mesmo o facto de ver os jovens algo descrentes na política. “Acho que há uma desconfiança fortíssima dos jovens relativamente à política e à própria democracia (…), [porque] sentem que aquilo que lhes foi prometido e que foi uma conquista laborada ao longo dos anos, com muito esforço, está a tombar. Não é um fenómeno nacional, é um fenómeno internacional”.
Todavia, isso não parece ser impedimento para que esses mesmos jovens entrem na vida política. Aliás, isso parece ser um motivo para que eles entrem no meio e, por si, tentem mudar as coisas. A prova está nas caras novas que a deputada tem visto em todos os grupos parlamentares.
Mas a verdade é que essa é também a história de Isabel Moreira. Quando ainda não era nada na política, batalhou com unhas e dentes pelo casamento gay. Quando a proposta foi votada e aprovada, referiu que aquele tinha sido o dia mais feliz da sua vida cívica. Agora tem um cargo oficial, talvez para que seja mais fácil lutar pelo segundo dia mais feliz da sua vida cívica.