Pedro Gadanho: a arquitectura portuguesa acaba por se “virar muito para dentro”
Pedro Gadanho, actual curador do MoMa, acredita que a arquitectura portuguesa precisa abrir-se, "cultivar relações cosmopolitas com o mundo maior"
O crescente reconhecimento internacional da arquitectura portuguesa leva frequentemente a um “virar para dentro”, em vez do cultivar de relações internacionais, afirma o curador de arquitectura contemporânea no Museu de Arte Moderna (MoMA) de Nova Iorque, Pedro Gadanho.
“Os portugueses são conhecidos fora, mas às vezes conhecem pouco do que se faz fora, além das coisas mais óbvias”, afirmou em entrevista à Lusa o arquitecto e curador, que iniciou funções esta semana no museu nova-iorquino.
Exemplo do crescente reconhecimento é a entrega do prémio Pritzker 2011 ao arquitecto portuense Eduardo Souto de Moura, e o interesse pela produção arquitectónica portuguesa é visível nas publicações de referência deste campo.
Arquitectura nacional é "muito auto-referencial"
“O mundo da arquitectura portuguesa, às vezes até por efeito paradoxal do seu alto nível de reconhecimento, também acaba por se virar muito para dentro, ser muito auto-referencial e exibir até um certo contentamento com a sua capacidade de afirmação”, aponta Gadanho, curador de várias exposições de arquitectura na Europa, incluindo a de Portugal na bienal de Veneza em 2004.
Este fechamento “pode levar a uma situação em que perde alguma capacidade, agilidade de se manter nas posições mais cimeiras”, mesmo que ao nível da formação a arquitectura portuguesa seja “bastante sólida”.
“Não há razoes para perder esse reconhecimento que tem, mas para isso é preciso cultivar relações cosmopolitas com o mundo maior”, adianta. Um dos jornais on-line de referência na arquitectura, ArchDaily, lançou recentemente uma edição em português brasileiro, dando destaque a projectos brasileiros, latino-americanos, mas também portugueses.
“Portugal é dos países mais publicados internacionalmente, em blogues, revistas, dos que tem mais presença regular, juntamente com espanhóis, japoneses, chilenos”, afirma Gadanho.
Programa para jovens arquitectos
Além de fazer a curadoria de exposições e de conduzir as aquisições de arquitectura contemporânea do MoMA, Gadanho tem a seu cargo um programa de jovens arquitectos, lançado em Nova Iorque e já internacionalizado para Itália e Chile.
A ideia do programa, que o MoMA pretende estender na Europa e Ásia, afirma, é “mostrar o que são arquitectos emergentes locais e ir construindo de algum modo retratos da realidade mais recente da arquitectura em diferentes localizações.
Numa altura em que muitos jovens arquitectos em Portugal não encontram emprego, Gadanho encoraja estes novos profissionais a verem a arquitectura como um campo aberto. “As qualidades que o arquitecto aprende na formação expandem-se a imensas possibilidades. Tem a ver com domínio do espaço e informação, o que tem aplicação em muitas áreas que não só a construção de edifícios”, afirma.
O seu próprio exemplo, diz, é de “alguém que muito cedo percebeu que valia a pena diversificar a actividade”, em vez de “perseguir ideia do atelier profissional que anda à procura de clientes e tenta conseguir encomenda para fazer obra”. “Essa perspectiva podia ser complementada por entendimento da arquitectura como produção cultural, o que leva a que possa então haver produção de pensamento, publicações, exposições e mesmo outras coisas como consultoria”, afirma.
Esta tendência de alargamento do campo surgiu nas principais capitais, adianta, e a crise apenas “acentua e agudiza essa necessidade de encontrar saídas diversificadas” para os arquitectos portugueses.