Pouco se sabe do que aconteceu entre 1985 e 1996 na vida pessoal de Steve Jobs, ou seja, durante o período em que esteve fora da Apple, incompatibilizado com ideias da direcção da empresa.
Nem mesmo a biografia autorizada, escrita por Walter Isaacson, parece ter esmiuçado completamente esse tópico. Talvez pela falta de dados objectivos. Algo a que, na verdade, a banda-desenhada não costuma estar sujeita. “The Zen of Steve Jobs” é a prova disso.
Da autoria de Caleb Melby, jornalista da Forbes Magazine, e com ilustrações da agência JESS3, trata-se de uma novela gráfica que, recorrendo a factos verídicos e a outros inventados, conta o que terá acontecido nesses “anos perdidos”, com especial referência para a conversão de Jobs ao budismo e a forma como essa religião influenciou o design, funcionalidade e sucesso dos produtos da Apple que se seguiram.
Um encontro inevitável
A história centra-se em duas personagens: Jobs, claro está, e Kobun Chino Otogawa. Kobun (1938-2002) foi um sacerdote budista-zen que emigrou do Japão para os EUA no início da década de 70.
Mais tarde, o seu caminho e o de Jobs viriam a encontrar-se. Algo inevitável, visto que tinham em comum mais do que o que se poderia pensar: Otogawa era designer e calígrafo; Jobs já tinha tido contacto com o budismo nos tempos de escola e via no japonês uma forma de aprender mais sobre a religião.
“The Zen of Steve Jobs” viaja de 1970 a 2011 (ano da morte do guru da Apple), mas centra-se, sobretudo, no período em que Jobs aprofundou os seus conhecimentos na doutrina oriental e no facto de ter tirado dela somente aquilo que precisava e deixado o resto para trás.
A revelação, no livro, desta atitude, poderá vir a desiludir os “adoradores de Steve Jobs”, enquanto os “fãs de Steve Jobs” tenderão a aceitar com mais facilidade, segundo Caleb Melby, que faz referência para a existência destes dois grupos de pessoas.
Realidade e imaginação
Para construir a história à volta da relação entre Jobs e Kobun, o autor entrevistou budistas-zen que, ou tinham estudado sob a orientação do sacerdote, ou tinham interagido, em alguma altura, com Steve. Mas também os discursos públicos que, quer Kobun, quer Jobs, tinham feito naquele período, serviram para criar a narrativa. O resto foi tudo inventado.
O resultado final é uma novela gráfica de 80 páginas que ilustra e imagina a fase que antecedeu o regresso de Steve Jobs à Apple e que poderá ter sido o momento-chave do sucesso posterior da empresa. Disponível nas livrarias dos EUA, mas também online.