Gulbenkian Paris com exposição de Paula Rego até Abril

Fundação inaugura exposição com 30 trabalhos de Paula Rego. Será uma "grande oportunidade" para Paris conhecer a pintora

”O Pillowman” (2004) Paula Rego
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”O Pillowman” (2004) Paula Rego
“Mulher cão” (1994) Paula Rego
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“Mulher cão” (1994) Paula Rego

A Fundação Calouste Gulbenkian em Paris inaugura, esta quinta-feira, a primeira exposição “representativa” da obra da pintora Paula Rego, em França, com trabalhos desenvolvidos entre 1988 e 2009, de “A família” à “Mulher cão”.

A exposição, composta por cerca de 30 pinturas, gravuras e desenhos, não é retrospectiva e foge à ordem cronológica da criação das obras, disse, à agência Lusa, Helena de Freitas, directora da Fundação Paula Rego/Casa das Histórias, co-organizadora da iniciativa.

“Escolhemos um formato que põe em relevo um período que corresponde a uma grande maturidade do trabalho artístico da Paula Rego e que coincide com o reconhecimento internacional da sua força e originalidade”, afirmou.

Os trabalhos vão ficar expostos na nova sede da Fundação, em França, até ao dia 1 de Abril. Helena de Freitas considerou que “esta vai ser uma grande oportunidade para Paris olhar para Paula Rego e compreender a sua obra”: “É uma exposição forte, a que ninguém poderá ficar indiferente. O espaço não é grande e as obras são densas, fortes, bonitas”, disse.

Uma exposição de emoções

O percurso começa com a obra “A família” (1988), que desenha uma mulher, mãe e duas filhas, na tentativa de reanimarem “a todo o custo” o marido, pai. A directora explica que esse trabalho, feito depois de 1986, ano que os críticos apontam como o da “fractura mais evidente” no trabalho da autora, depois da morte do seu marido, Victor Willing, “inicia a alteração da sensação de representação plástica de Paula Rego”.

Essa “mudança radical” é também ilustrada na série “A menina e o cão”, construída a partir dessa data, que, explicou Helena de Freitas, “exprime, de forma alegórica, a fase final da doença do seu marido, transpondo, na representação das duas figuras, a humana e a animal, uma coreografia de gestos quotidianos de dependência física e de violência psicológica”.

“É uma exposição que, de alguma forma, entra no campo das emoções. Todo o potencial emocional está muito presente”, acrescentou.

Um pilar central destes “núcleos temáticos e séries” que compõem a exposição é o “Anjo” (1998), a mulher que segura com uma mão a espada, com a outra uma esponja, “os símbolos da paixão”. Helena de Freitas considera a obra “fundamental” porque “ela transporta os símbolos do sofrimento da paixão” e sublinha a “dualidade, muito importante no trabalho da autora”.

O percurso termina — “ou pode começar” — com a “Mulher cão” (1994), “uma série muito forte, que também tem que ver com a paixão e com relações emocionais e que expõe o lado animal da mulher na relação com o amor”.

Na verdade, a directora encontra antes um fim n’”O Pillowman” (2004), “obra poderosíssima, muito complexa, que incorpora já a questão dos modelos e muitas memórias de Portugal”.