Capital Europeia quer mais jovens no centro histórico
Fixar jovens na zona histórica e dar-lhes ferramentas para singrar no mercado de trabalho são dois objectivos da organização da Braga 2012. Empreendedorismo parece ser a palavra de ordem
Pode parecer contraditório, mas o coração da Capital Europeia da Juventude 2012 precisa de jovens. Braga não é uma cidade envelhecida – quase metade dos seus 181.474 residentes tem menos de 35 anos –, mas um turista que erre pelo centro achará que esta zona histórica não é para jovens. Trata-se de uma realidade urbana que os organizadores da Braga 2012 pretendem agora reverter.
“O facto de o campus de Gualtar [da Universidade do Minho] estar afastado do centro histórico faz com que haja uma distância psicológica. Nós queremos quebrar essa barreira – não é fácil, mas quebrá-la é um dos nossos objectivos”, afirma ao P3 Hugo Pires, vereador do Urbanismo da Câmara de Braga e presidente da Fundação Bracara Augusta. Esta entidade é a responsável pela organização da Capital Europeia da Juventude Braga 2012.
"Encaixa-te": seis meses de renda à borla
Fixar jovens na zona histórica é o objectivo da iniciativa “Encaixa-te”, que consiste em pôr a autarquia como intermediária entre os jovens empreendedores e os proprietários de lojas no centro. Os futuros inquilinos serão seleccionados num concurso no qual um júri composto por representantes da Universidade do Minho vai eleger as dez melhores ideias de negócio.
O conceito do “Encaixa-te” é o seguinte: os senhorios comprometem-se a arrendar a custo zero espaços comerciais aos jovens, que, por sua vez, têm meio ano para perceber se o negócio é ou não viável. Se o projecto tiver pernas para andar, os inquilinos assinam então um contrato de arrendamento de, pelo menos, um ano. Se não, o imóvel é devolvido ao proprietário ao fim dos seis meses de experiência. O valor da renda é acordado previamente.
Empreendorismo é palavra recorrente
Basta uma análise rápida ao discurso da organização da Braga 2012 para perceber que empreendedorismo e mercado de trabalho são palavras de eleição. Talvez seja uma forma de vincar a identidade de uma Capital Europeia da Juventude que decorre em Braga no mesmo ano em que a cidade ao lado, Guimarães, é Capital Europeia da Cultura. Hugo Pires garante que a relação entre as duas organizações é "sã e amigável".
Há um esforço político para mostrar que os dois eventos não são comparáveis porque, de facto, têm propósitos, grandezas e orçamentos diferentes. Apesar da ênfase na formação e na empregablidade dos jovens, a programação Braga 2012 também aposta em eventos culturais. A combinação dessas duas vertentes preside à lógica do equipamento âncora do evento, o GeNeRation, que vai ser um espaço de criação artística, "co-working" e de indústrias criativas.
A ideia de que não falta empreendedorismo jovem em Braga já não admira quase ninguém, sobretudo depois de a participação de Miguel Gonçalves (co-responsável pelo So You Think You Can Pitch) no Prós & Contras, em 2011, ter tornado num fenómeno viral nas redes sociais. Há vários casos, de facto. Temos por exemplo tanto o Nuno Freitas como Helena Gomes, que criaram diferentes negócios na cidade há cerca e meio ano. Ambos esperam que a Capital Europeia da Juventude dinamize a economia local.
Entre os gelados e a animação 3D
Nuno Freitas criou, juntamente com a mulher, Nádia, a marca de gelados artesanais e "cupcakes" Spirito. O investimento foi de 200 mil euros. Na loja aberta em Agosto de 2011 no Largo de S. João de Souto, no centro histórico, cubas contendo sabores inusitados - ao todo há 120 tipos diferentes, do Moscatel ao Cerelac - esgotam "muito rapidamente".
"Tenho aqui muitos amigos empreendedores, mas é claro que há sempre gente que é obrigada a emigrar. Neste momento, há muitas empresas a crescer cá", sublinha. Nuno Freitas, que também é proprietário da empresa multimédia e de efeitos visuais 3D Sketchpixel, ofereceu gratuitamente à Capital Europeia da Juventude uma aplicação para iPhone que permite combinar geo-localização com informação sobre a programação Braga 2012.
Além do tecido empresarial emergente, também é reconhecida em Braga a produção de conhecimento em diversas áreas. O Laboratório Ibérico Intermacional de Nanotecnologia, criado em 2009, é apenas um exemplo de uma excelência científica que atrai jovens e dinamiza a economia.
Pop, o primeiro hostel de Braga
A veterinária Helena, de 32 anos, adora o espírito CouchSurfing e, por isso, alimentava o sonho de um dia abrir um hostel onde os hóspedes pudessem ser recebidos como amigos de amigos. Quando o Fórum Europeu da Juventude escolheu Braga entre nove candidatas para ser a Capital da Juventude, Helena pecebeu que tinha ali o pretexto que faltava para abraçar de vez o projecto. Assim nasceu o Braga Pop Hostel no terceiro andar de um edifício da Rua do Carmo.
Helena vê Braga como "uma cidade jovem em fase de transição". Enquanto o país inteiro insiste em pensar em Braga como um lugar conservador, abafado pelo peso de dois mil anos de História, e onde o turismo é essencialmente religioso, a criadora do primeiro hostel bracarense acredita que a cidade está num processo gradual de metamorfose.
"Braga tem hoje uma atmosfera mais jovem do que há cinco anos. Se pode ser mais jovem? Claro que sim", diz a veterinária ao P3. E o que é que falta? Falta uma "boa rede de transporte entre o centro e a universidade, sobretudo à noite". Para Helena, "isto revolucionaria a cidade", uma vez que atrairia os cerca de 16 mil estudantes que frequentam a Universidade do Minho.
Opinião semelhante tem Luís Fernandes, guitarrista dos peixe:avião e um dos sócios da editora independente PAD. Os universitários estão arredados do centro histórico porque encontram à volta do campus tudo aquilo de que necessitam: bares, comércio, discotecas, quiosques, alojamento. Assim, a Braga jovem é a académica e não a do centro histórico. Na opinião do músico, é preciso pensar formas de integrar estes dois contextos urbanos.
“Se essa integração tivesse sido feita de raiz, todos ganharíamos. Era uma relação quase de simbiose", explica Luís ao P3. "Os jovens estariam num contexto mais apelativo e a cidade ganhava porque florescia."