Ishac Bertan é catalão, vive em Copenhaga (Dinamarca), e é lá que desenvolve o seu trabalho e devoções. Uma delas é por vinis e processos analógicos. Pois bem, juntar uma e outra deu numa mistura, já que era isso mesmo que Ishac procurava: misturar partes de diferentes álbuns num só disco.
E é aqui que entra o processo analógico. Para tal propósito, o designer de interacção utilizou a técnica de “cut & paste”, ou, traduzido, “corta e cola”. A questão é que, com Ishac, a técnica ganha um sentido literal, ou seja, o processo consiste em cortar pedaços físicos de um disco de vinil e colá-los noutro, previamente cortado com os mesmos espaços, para que as peças encaixem naturalmente, como se fosse um puzzle.
Não vai a x-acto, vai a laser
Para quem quiser experimentar o método, recomenda-se, como primeiro passo, escolher os álbuns a misturar. No caso de Bertran, a selecção recaiu em Supertramp, Wagner, Paul Anka, Chicago e Lil Jon, não só por causa do interesse nos estilos possíveis de cruzar, mas também pelo facto de todos os discos em questão terem a mesma espessura (1,2 mm), factor crucial para serem compatíveis.
Quanto ao processo de corte, é analógico, mas não é à tesoura. Bertran até que experimentou cortar os vinis com um x-acto, mas o resultado não foi nada positivo, criando uma separação grande demais para a agulha ler.
O corte acabou por ser feito através de uma máquina de laser, que permitiu uma incisão segura e perfeita. Assim que divididos os sectores seleccionados, seguia-se a parte da colagem que, na verdade, só se chama assim, porque o designer usou fita-cola para os segurar temporariamente, já que eles encaixavam na perfeição.
Supertramp com Lil Jon
Em declarações, por e-mail, ao P3, Ishac Bertran refere que “demorou cerca de cinco horas a preparar os cortes, a cortar com o laser e a misturá-los”. O custo desta experiência foi “só o (…) dos vinis” – “numa loja, em segunda mão, gastei um euro por cada um”, diz.
O resultado final são quatro álbuns misturados com músicas dos discos já referidos. Bertran diz que “existem algumas partes de Supertramp com Lil Jon que encaixam muito bem, embora o propósito não fosse fazer música em si, mas tentar juntar algumas ‘samples’. Por causa da formato circular do vinil, é muito difícil ter sectores que funcionem em duas rotações consecutivas”, afirma.