No passado dia 27 de Dezembro, um Tribunal Administrativo egípcio decretou o fim dos chamados “testes de virgindade” a que as detidas do sexo feminino eram sujeitas nas prisões militares.
Tudo começou após a detenção de quase duas dezenas de mulheres, ocorrida em Março, na Praça Tahrir. As mulheres, que participavam num protesto pró-democracia, foram feitas prisioneiras sob diversas acusações, entre elas a de violação do recolher obrigatório (apesar de, segundo se refere, a detenção ter sido feita às 15h…).
As detidas foram insultadas, amarradas, arrastadas pelo chão, esbofeteadas, espancadas e maltratadas. Já na prisão, foram separadas em dois grupos: as casadas e as solteiras. Estas últimas foram então levadas, uma a uma, para uma sala onde, com as janelas abertas e à vista de soldados que se divertiam a fotografar a cena, foram obrigadas a despir-se e a deixar-se “examinar”, durante longos minutos, por um suposto médico, com o objectivo de verificar a sua virgindade.
Ao contrário das outras, uma das detidas, Samira Ibrahim, de 25 anos, apresentou queixa formal contra os militares egípcios que a maltrataram. Por causa disso, recebeu ameaças de morte. Mas, contra todas as probabilidades (até os seus advogados diziam que o caso não parecia poder ter um desfecho favorável), e apesar de os militares terem negado repetidamente que tais actos tivessem sido levados a cabo, esta mulher conseguiu, pela sua coragem, aquilo que parecia impossível: o Tribunal decretou que os “testes de virgindade” levados a cabo nas prisões militares tenham um fim imediato.
Esta é, certamente, apenas uma pequena vitória na enorme guerra que é necessário travar para que a discriminação, a desvalorização e a segregação a que as mulheres são sujeitas em países conservadores, patriarcais e opressivos como o Egipto terminem definitivamente. Muito há ainda a fazer: nas palavras de uma activista da Human Rights Wacht, Heba Morayef, a luta pelos direitos das mulheres é ainda maior que a luta pelos direitos humanos.
Mas a audácia de Samira, desta jovem mulher que ousou enfrentar os militares egípcios, tem de ser enaltecida. Apesar da humilhação, da vergonha, da tortura a que foi submetida, esta verdadeira guerreira, mais do que por si, lutou pelas outras mulheres. Samira disse que tomou a decisão de avançar com a queixa para que nenhuma outra mulher tenha de passar pelo que ela passou. E a sua atitude foi determinante nesse sentido, como resulta da decisão proferida pelo Tribunal egípcio.
Os heróis são feitos desta massa. Da massa da coragem; da massa da bravura; da massa dos sonhos. Samira sonha com um mundo melhor, mais humano, mais igual, mais fraterno, mais livre. E o sonho, como todos sabemos, comanda a vida.