Sou o pior dançarino do mundo. Sei-o desde adolescente idade, por culpa de noites mal passadas em duvidosos bares de praia.
Eu era um jovem que só tinha ouvidos e pernas para o punk, mas o que é que se pode fazer numas férias de Verão numa terrinha? Copos, claro. E fingir que se dança, a única forma de calar a multidão de amigos que, genuinamente, se bamboleia com o King Africa e que acha que o pior dançarino do mundo é um tipo com problemas de integração. Um sociopata em potência. Um tipo a quem é importante convencer dos méritos da dança. Para seu próprio bem.
Claro que a culpa não era minha, o inferno são os outros, os que dançam genuinamente coisas genuinamente insuportáveis. A culpa era, pois, da banda sonora.
Foram precisos alguns anos para descobrir que não és tu que te pões a dançar uma canção, é a canção que te põe a dançar. E, continuando a ser o tipo mais quieto da pista, há música cujos efeitos me põem a pensar: “Pedro, és tu que estás a fazer essas coisas estranhas com o teu corpo?”.
Os Buraka Som Sistema fazem com que isso me aconteça. Sem dificuldades: não há forma de resistir ao festim “proibidão” de ritmos, baixos roliços e vozes atiçadas. Fazem música daqui, de Angola, do Brasil, do Reino Unido, dos Estados Unidos. Se queremos que uma banda represente um Portugal aberto ao mundo (mesmo que o mundo, ou parte dele, nos olhe como mandriões), façamos dos Buraka essa banda. Nem precisamos de nenhum gabinete para exportar música, eles já o estão a fazer. Ah, nobre povo.
Em “Komba”, o último álbum, já não mora a frescura de “Yah!”, mas seria absurdo pedi-lo. O que temos é um belo disco – “LOL & Pop” e os seus “chupa-chupa” deviam ir para o cânone da santa devassidão; “Hangover (BaBaBa)” eleva um obscuro gancho de kuduro à categoria de arte suprema.
Este sábado, se forem ao Coliseu do Porto ver os Buraka Som Sistema, talvez apanhem por lá o pior dançarino do mundo. Digam “olá”.