Quando em 2030 conduzir um veículo eléctrico for uma situação normal, todos os problemas que hoje assombram este mercado têm de estar identificados, estudados e com soluções encontradas. As novas ansiedades dos condutores têm de ser claras e as opções de carregamento das baterias têm de ser variadas e eficazes, para que trocar um carro tradicional, com motor de combustão interna, por um eléctrico não seja uma dor de cabeça.
Foi esse o grande objectivo que norteou, nos últimos dois anos, o projecto MERGE (Mobile Energy Resources for Grids of Electricity): tentar identificar um conjunto de soluções de gestão e de controlo que permitam a integração de um grande número de veículos eléctricos nas redes eléctricas europeias.
A coordenação técnica e científica do projecto, que é financiado pela União Europeia, está a cargo do INESC Porto (Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores), a par da REN – Rede Eléctrica Nacional, os dois parceiros portugueses, num total de 16 europeus.
“Um dos aspectos críticos era saber como é que os futuros condutores vão gerir o veículo eléctrico em termos do seu carregamento”, diz ao P3 Peças Lopes, responsável pelo MERGE. Agora, quando o projecto está a chegar ao fim, são vários os aspectos que podem ajudar a desenhar uma estratégia mais sustentável.
"Smartcharging? Not in my back yard!"
“A maioria terá uma preferência por fazer o carregamento das baterias do seu carro no final do dia, no final da última viagem que faz. E, de preferência, o mais próximo possível de sua casa”, descreve Peças Lopes. No entanto, o momento em que se iniciariam os carregamentos corresponde, precisamente, ao pico de consumo de electricidade, o que configura, para Peças Lopes, “um problema grave”.
Uma forma inteligente de pensar os carregamentos afigurou-se como o único caminho a seguir. Foi assim que nasceu a filosofia que Peças Lopes apelida de "smartcharging" (carregamento inteligente, numa tradução livre). “No fundo, é carregar a bateria no momento certo e no local certo, de modo a não afectar o funcionamento da rede eléctrica.”
E porque a ligação entre o operador da rede de distribuição e as entidades comercializadoras “tem de ser muito forte”, o trabalho conceptual desenvolvido pelo MERGE aponta para a necessidade de uma minimização dos investimentos nas infra-estruturas da rede, sem que isso iniba o desenvolvimento da mobilidade eléctrica.
Investir mais em cobres ou em transformadores seria a alternativa que, diz Peças Lopes, não é viável hoje em dia. “Este é momento NIMBY [“Not in my backyard”]. As pessoas não querem mais nenhuma linha a passar por cima de sua casa, nem mais valas abertas nas ruas para meter mais cabos”, explica o responsável.
“A mobilidade eléctrica vai avançar devagar”, crê Peças Lopes, até porque enquanto o parque automóvel tradicional não mostrar desgaste, ninguém vai querer fazer a troca. “Estamos convencidos de que, a partir de 2020, o crescimento vai ser mais nítido”, diz, pelo que os estudos do MERGE vão dar jeito.