Escola do Porto é uma marca que não se renovou

Apogeu da Escola deu-se entre os anos 60 e 80. Nos últimos 20 anos, o que existe é um "lastro", diz o arquitecto Jorge Figueira

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Edifício de Serralves foi projectado por Siza Vieira Paulo Ricca

Desde os anos 80, a Escola do Porto vive um “período de gestão do legado” que construiu nas décadas passadas, afirma o arquitecto Jorge Figueira, para quem o fenómeno Escola do Porto é algo que aconteceu essencialmente entre os anos 60 e 80.

“A partir do momento em que se percebe que a Escola [do Porto] é uma marca e que deve preservar-se, de alguma forma a escola deixa de fazer sentido”, desenvolve.

A Escola, enquanto instituição, e as pessoas envolvidas “continuam”, ressalva, mas como um “lastro”: “Essa qualquer coisa que fica quando um objecto se move com muita velocidade e deixa sempre qualquer coisa para trás, acho que é essencialmente isso que se vive nos últimos 20 anos no Porto”.

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Souto Moura, prémio Pritzker em 2011, projectou a primeira fase do Metro do Porto Adriano Miranda

A marca Escola do Porto continua a fazer-se sentir na “visão romântica do ser arquitecto” com que os alunos saem da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (FAUP): “A passagem pelo desenho, como uma espécie de instrumento primário de entendimento do mundo, essa aprendizagem básica e arcaica, é o legado mais bonito e estruturante do Porto”, acredita o arquitecto formado na FAUP.

Aposta no desenho é uma das características do ensino no Porto

Aquilo que se designou por Escola do Porto surge “um pouco espontaneamente e não necessariamente com um guião sobre o que é e o que deve ser”, explica Jorge Figueira, autor do livro “Escola do Porto: um mapa crítico”.

Escola já não vive momento áureo

Há uma série de indícios de uma certa “convergência” e começa a surgir “uma comunidade de arquitectos relativamente alargada que tem uma visão do mundo através da arquitectura muito semelhante”.

Primeiro Távora, depois Siza 

A Escola vai ganhando visibilidade, primeiro com obras de Fernando Távora, na passagem dos anos 50 para os anos 60, e mais tarde com Siza Vieira, que “começa um pouco inexplicavelmente a reinventar a arquitectura moderna numa perspectiva pessoal e no contexto da comunidade do Porto”.

A Escola é o espaço físico, esclarece Jorge Figueira, mas “aquilo que se passa nos ateliês, nos concursos e nas publicações estrangeiras, é tão importante para definir a Escola como a escola propriamente dita”.

Nos últimos anos, a relação dos arquitectos da Escola com a cidade do Porto está a passar por um momento baixo, depois de ter atingido o pico com o projecto do Metro do Porto, coordenado por Souto Moura, outro nome forte da Escola.

“É uma relação que depende um pouco do presidente da câmara, de haver uma afeição aos arquitectos do Porto ou não”, lamenta. E, num momento de crise, “provavelmente por não haver mesmo dinheiro”.

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