"Olha Lá", um retrato do Porto

Começou com uma oficina de fotografia para residentes do centro histórico e membros da comunidade lusófona do Porto

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Paulo Pimenta

As paredes forradas de cartazes publicitários coloridos que ladeiam as ruas do Porto converteram-se, nas últimas semanas, em galerias de arte a céu aberto com a recepção da exposição de fotografia do projecto Olha Lá.

A Lai Lai, o António, a Joaquina e a Leina são alguns dos rostos fotografados a preto e branco que protagonizam os retratos da autoria de Susana Neves.

São todos moradores do centro histórico ou membros da comunidade lusófona da cidade, escolhidos, como explica um dos responsáveis pelo projecto, o actor e performer Miguel Pinheiro, “porque são populações à margem na cidade, são populações que têm pouca exposição, que têm pouco interesse mediático, de que as pessoas falam pouco”.

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Em cada retrato há uma história de vida Paulo Pimenta

E, para além desta característica social que partilham, há a questão da genuinidade, acrescenta. “Reúnem a língua portuguesa como língua mãe aqui na cidade mas, ao mesmo tempo, há qualquer coisa de genuíno nelas mesmas”.

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Mostra-se um pouco mais do que a superfície das pessoas Paulo Pimenta

Por detrás de cada retrato, há uma história de vida, que é recolhida no momento do encontro dos fotografados com a sua reprodução afixada algures na cidade.

Esta recolha está a cargo de João Queirós, investigador do Instituto de Sociologia de Universidade do Porto, e é transformada em pequenas histórias publicadas no blogue da 10pt, a associação promotora do projecto, desenvolvido no âmbito do programa Manobras no Porto.

“Ao fazer isso, conseguimos, mais uma vez, mostrar um pouco mais do que apenas a superfície das pessoas”, realça Miguel Pinheiro. As mesmas histórias servem também de base para o espectáculo de teatro que está agora a ser desenvolvido e vai ser apresentado nos dias 29 e 30 de Setembro, e no dia 1 de Outubro.

Cem mupis

Tudo começou com uma oficina participativa de fotografia dirigida por Susana Neves exactamente a estes públicos-alvo, e cujos resultados vão estar expostos, na Casa Museu Guerra Junqueiro a partir do dia 24.

Com o surgir da ideia da exposição de rua, alguns participantes passaram para o lado oposto da objectiva, juntaram-se mais alguns ‘modelos’ voluntários destas comunidades e afixaram-se cem mupis, de cinquenta retratos diferentes.

“Acho que isso é a primeira grande vitória do projecto, conseguirmos que essas pessoas se pensassem como parte de uma coisa bonita, que não são só pessoas que causam problemas, vivem num meio problemático e são postas à parte porque não têm nada para dar aos outros”, congratula-se Miguel Pinheiro. E a fotógrafa acrescenta: “Vamos mais pela parte humana delas”.

No dia da inauguração da exposição dos resultados da oficina participativa, dá-se também início a um ciclo de conversas sobre arte e lusofonia.

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