O iPad vai salvar as baleias

O iPad vai salvar os jornais. Vai salvar o mundo. É pena que não tenha sido lançado no auge da carreira de Roberto Carlos

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Alexandre Martins, jornalista do PÚBLICO, escreve semanalmente neste espaço sobre media e tecnologia

O iPad vai salvar os jornais. O iPad vai salvar as revistas. O iPad vai salvar o mundo da aniquilação total. É pena que não tenha sido lançado no auge da carreira do cantor brasileiro Roberto Carlos, porque estou certo de que o iPad até iria salvar as baleias.

É esta a ideia que tem sido vendida aos profissionais dos media e que tem sido avidamente comprada pelos consumidores de "gadgets", como eu. A histeria com o "tablet" da Apple é tanta que chega a desligar os neurónios de reputados analistas de insuspeitas instituições, como o britânico Needham Research Institute.

No mês passado, uma ideia lançada por Charlie Wolf, analista daquele instituto ligado à Universidade de Cambridge, passava pelo filtro dos jornalistas e chegava com a maior das naturalidades às primeiras páginas de sites e blogues de tecnologia de todo o mundo: "O iPad terá 60% do mercado de tablets em 2020."

Ipad em 2020? Só no eBay

Sem querer pôr em causa a reputação dos analistas do Needham, a primeira coisa em que pensei foi: "Mas alguém acredita que o iPad ainda exista em 2020? Só se for no eBay... Isto se o eBay ainda existir em 2020."

Chegou o momento de fazer uma declaração de interesses: já fui um orgulhoso proprietário de um iPad. Mal saiu o primeiro, lá fui eu a correr comprar aquele pedaço de futuro no presente. Pouco tempo depois, dei-me conta de que a nova criação de Steve Jobs estava a tornar-se redundante e decidi despedi-lo.

Bem vistas as coisas, o futuro dos jornais e das revistas é como o traçado do TGV em Portugal: é certo que chegará um dia, mas ninguém sabe muito bem por onde vai passar.

Uma coisa tenho como certa: o futuro dos media não passa pelos "tablets". Dentro de pouco tempo vamos aperceber-nos de que estes aparelhos não são mais do que os computadores de secretária da geração mobile: grandes, pesados e feitos à medida para se venderem mais umas quantas daquelas capinhas ridículas.

Se quisermos espreitar o futuro pelo buraco da fechadura, é melhor pôr os olhos em projectos como o The Page, uma folha electrónica com ligação à Web que podemos dobrar e pôr no bolso, concebida por alunos finalistas do Art Center College of Design, na Califórnia; ou o Sixth Sense, uma interface que projecta informação online em qualquer superfície, que permite interagir com ela através de gestos e que torna aquela coisa futurista do filme "Relatório Minoritário" numa coisa do passado.

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