Centenas de madeirenses cumpriram domingo um minuto de silêncio para mostrar a sua indignação “contra esse jardim estragado” que deu má imagem da Madeira ao ocultar dívidas.
A concentração, convocada através das redes sociais, expressa o protesto pacífico de “uma sociedade anestesiada por fortíssimas doses de 'Madeira Nova'”, onde “quem ousou pensar em voz alta foi exilado na ‘Madeira Velha’ ou estigmatizado de fundamentalista”, frisou o seu promotor, Raimundo Quintal.
Este ambientalista e geógrafo recordou que “um povo que fez 1.400 quilómetros de levadas não tem medo” de exercer os seus direitos de cidadania. “Estamos aqui para pensar no futuro, nas crianças que nascem com dívidas para pagar de obras faraónicas”, frisou Quintal, apelando à reflexão sobre o futuro da Madeira.
Um novo paradigma
“Urge iniciar a edificação dum novo paradigma que valorize o ser em detrimento do ter, consentâneo com a escala do território arquipelágico, assente na conservação dos ecossistemas marinhos e terrestres. Mas que ninguém tenha ilusões. A implementação do novo paradigma será um processo moroso e doloroso. Um eucaliptal não se transforma em Laurissilva", disse.
A concentração teve lugar no aterro do Funchal, onde a 20 de Fevereiro deste ano cerca de dois mil madeirenses protestaram contra a construção de um cais para cruzeiros no local, contestando esta obra “megalómana”, feita com verbas da solidariedade nacional e de meios financeiros disponibilizados pelo Estado para a reconstrução pós-temporal e apoio às vítimas.
Bandeiras negras hasteadas
No sábado, véspera da manifestação, o governo regional mandou colocar um placard com o projecto e barreiras para impedir a acesso ao depósito de inertes, junto ao cais da cidade.
Cumprido o minuto de silêncio, as centenas de manifestantes, na maioria sem qualquer filiação partidária, proclamaram ontem repetidamente “vivas” à Madeira e a Portugal. Depois dispersaram, alguns deixando implantadas no aterro bandeiras negras que exibiram no encontro.