"Homem mais forte de Portugal" faz Porto vibrar

"Se houvesse dez milhões de portugueses assim, a troika não estava cá", ouviu-se durante a competição no Porto

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Em frente à Cadeia da Relação, oito homens competiram pelo título de homem mais forte de PortugalPaulo Pimenta

Já não há fitas a separarem o público franzino de pneus com 350 quilos, cilindros de metal compacto, barris pesados e homens monolíticos, com braços que equivalem a dois (ou três) braços da maior parte da população portuguesa. O perímetro de segurança rompeu-se no confronto com a vontade de ver mais de perto a coreografia de força bruta que é apurar quem é o "homem mais forte de Portugal".

Ontem, dia 17 de Setembro, em frente à antiga Cadeia da Relação, no Porto, quase todos torciam pelo "filho da casa", o cidadão da freguesia da Vitória Bruno Leal, mas foi Adérito Santos, com 35 anos, quem levou o título para casa.

Numa arena improvisada, com rock e metal como banda sonora, a lembrar o "wrestling" americano, oito homens competiram pelo título, que já não era atribuído desde 2002. Levantar pneus de 350 quilos ou uma carrinha Kangoo (há um momento em que o corpo do atleta treme - é ele e uma tonelada numa luta contra a lógica) foram algumas das provas desta competição de "strongman".

Trabalhar de dia, treinar à noite

"Estes são os verdadeiros portugueses de que Portugal precisa neste momento. Se houvesse dez milhões assim, a 'troika' não estava cá de certeza absoluta", afirmou Nuno Araújo, ex-competidor e aficionado destas demonstrações extremas de força que começou a organizar em 1999. É que estes "super-homens" treinam "à noite", alguns há mais de 20 anos. "É muito sangue e suor. E estão aqui sem ganhar nada", frisa.

Adérito, o mais pesado (139 quilos), passa os dias numa empresa de transporte de bacalhau. Ser "strongman" em Portugal é isto: trabalhar de dia e treinar, treinar muito, à noite. "Comer e treinar" é a receita, diz, "não há outra hipótese".

Conselhos para candidatos a homem mais forte de Portugal vindos do dono do título: "Nada de doces", "muitas proteínas, arroz, batata e feijão". E comer é o que Adérito vai fazer para chegar, numa semana, aos 145 quilos necessários para ir a Málaga, em Espanha, participar numa prova importante. Uma missão ultrapassável para um homem que tem como maior proeza ter arrastado um camião TIR.

Já perto do final da competição, Renato Soares dizia ainda ter esperança de poder recuperar de um arranque infeliz - e a prova em que levantou com as costas, 42 vezes, uma carrinha com uma tonelada deu-lhe ânimo. Pegar no seu próprio carro, nos treinos, ajudou o bicampeão nacional de "powerlifting", outro desporto de força, que se estreou ontem nestas lides.

"Ié, ié, ié, o Bruno é que é", gritava o povo, mas Bruno Leal não ficou com o título. Treina desde os 15 anos, mas há quatro anos que se dedica ao "strongman", que passa por "treinar todos os dias no limite". Bruno pode gabar-se de já ter levantado 900 quilos com as pernas: não é o mais forte de Portugal, mas impõe respeito.

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